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domingo, 25 de novembro de 2012


A Filipa,  do alto dos seus reinvindicativos 15 anos, disse-me algo que me deixou mais ou menos sem palavras e…ao mesmo tempo com muitas palavras cá dentro, muitas emoções, muitos sentimentos enrodilhados qual novelo de lã com que um gato brincou.
Vamos tentar “refazer” o novelo de lã para podermos… tricotar a vida.
Disse-me a Filipa: “ mãe, sabes, não gosto dos filhos dos ciganos nem dos filhos dos “tios”.
(!!!!!)
Respondi: _“ Filipa, isso é preconceito!!! Há gente boa e má em todo o lado!!”_
Ainda entendo que ela não goste dos “meninos de etnia”: afinal já lhe bateram, já lhe tentaram roubar a mochila, já ofenderam a mãe , a irmã e tudo quanto é família….. Mas, no entanto, ela tem na sua turma de 10º ano um menino dessa  mesma etnia que tem um comportamento exemplar!!
Quanto aos filhos dos tios, reconheço que alguns possam ser demasiado arrogantes e até mal-educados,_ a sério, ser filho de XYZ ,não é apanágio de nada._
E eu???
Como lido com isto tudo??
Nesta classificação simplista,  o que sou eu??
Apesar da minha família não ser de Coruche e nunca aqui ter tido propriedades, a verdade é que sempre me dei bem com aqueles a que a Filipa,  ( e infelizmente muita gente), chamou de “tios”.
Aliás, ela chama “tias” às minhas melhores amigas de infância.
Tias, no bom sentido, porque são amigas, grandes amigas da mãe.
Coruche, é um meio rural e aqui chamam “tios” aos latifundiários ou ex-latifundiários, alguns tão ou mais pobres que eu.
Como os conheço desde a infância e a minha mãe me “obrigou” a fazer a escola primária numa professora particular, sou amiga da maioria dos ditos “tios”,  desde a infância.
É óbvio que sendo famílias coruchenses do antigamente são sujetos aos olhares dos “burgueses” ou “aburguesados” da vila e por vezes discriminados como pertencentes a uma elite.
Os meus amigos, são meus amigos. PONTO!
Nunca me preocupei em “encaixá-los” em qualquer tipo de classificação.
Pessoas são pessoas. Fui educada a cumprimentar a varredora de ruas como cumprimento o maior latifundiário da vila.
Quem discrimina quem???
Quem classifica e quem põe de parte quem??....
Apesar de não ser natural desta vila e de a minha família nunca aqui ter possuído nada, sempre fui tratada como amiga pelos meus amigos sejam eles detentores de prédios, herdades ou de nada.
“Tios” são os que dão só um beijinho?? Às vezes também dão dois!:))
E toda a gente sabe que as duas maneira de cumprimentar estão correctas. Não há nenhum manual de etiqueta que refira esse pormenor.
Já estive na Bélgica onde há pessoas que dão 3 beijinhos… e na Alemanha onde não dão nenhum.
A verdade é que classificar as pessoas, catalogá-las como “espécimens”, é um perfeito disparate sem qualquer tipo de lógica.
Se sou snob??
Sim. Sou snob com os “manientos”, “cagões”, “parvenues”, idiotas, desonestos e ladrões…Como os nossos políticos. Com esses, sem dúvida, sou snob.
Com aqueles que para valorizarem a sua imagem ostentam o que possuem e às vezes nem possuem, precisam de vestir roupa de marca para se afirmar, precisamde dizer que a sua família tem não sei quantas centenas de anos de história, etc,  etc,  definitivamente, com esses sou snob. Não lhes passo chapa, não há pachorra!
A verdade, é que nascemos nus… E nus morreremos.
Quanto aos antepassados, matematicamente está provado  e estudado que todos temos ancestrais plebeus e nobres.
Não gosto de catalogar pessoas, nem gosto de ser catalogada: já o senti na pele. Já me apresentaram como “a tia” do meu local de trabalho.
Porquê??.... Nunca percebi. Por ser monárquica???.....
Por gostar de me vestir com bom gosto,(das poucas coisas boas que herdei da minha lindíssima mãe), por ter referido a um colega de Gouveia que a minha família paterna era de lá_ e fiquei a saber que “aquilo era tudo deles”_,(!!!!) por ter andado na escola primária privada??..........................................................

“No enterro na famosa cripta dos Capuchinhos, onde estão todos os outros soberanos Habsburgos, foi cumprido o ritual de acesso.
Três vezes bateram nas portas de bronze. Três vezes um frade perguntou: – Quem quer entrar?
Na primeira vez disseram os seus títulos de nobreza. O frade respondeu: – Não o conhecemos. Na segunda vez disseram seus feitos. O frade revidou: Não o conhecemos. Na terceira vez disseram seu nome de baptismo:- Otto, simples pecador. E o frade abrindo os portais da eternidade respondeu:- Entre no reino da Divina Misericórdia e descanse em paz, Otto.”

É assim: no nascimento e na morte Deus,  só nos conhece pelo 1º nome.
Boa noite

Isabel