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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Monsaraz - parte 1

Monsaraz

Estava no 3º ano da faculdade, quando fui pela 1ª vez a Monsaraz acompanhada por um grupo fabuloso: Manuel Piçarra, Carlos e Helena Valverde, António Conde, Zézé Reis e Ana Pereira.
Naqueles tempos os “meninos” não iam para a faculdade de carro, poucos eram os que tinham tal “gadget” e foi graças ao velho Peugeot do nosso amigo “Maneli”. (bocha para os amigos), que lá fomos todos encavalitados, em passeio.
O dia estava luminoso e a estrada escorria devagar entre tons de azul, verde e amarelo das giestas em flor.
Parámos pelo caminho para apreciar uma olaria típica, e comprei uma peça de artesanato, que ainda hoje guardo com imenso carinho na sala de jantar.
Monsaraz surgiu imponente na paisagem…. _O Alqueva era ainda uma miragem longínqua e discutida pelo seu impacto paisagístico e ambiental_.
Na altura, só alguns conheciam e frequentavam aquela magia inigualável… Hoje, qualquer turista que se preze, já por lá andou, explorou, filmou e fotografou.
Entrámos em Monsaraz e sentimo-nos imediatamente envolvidos por um silêncio e uma Paz, que só se encontram nas grandes catedrais.
Entre brincadeiras e piadas, sorrindo só pela beleza do dia e pelas companhias agradáveis e sinceras, entrámos numa tasca onde apenas estavam 3 ou 4 velhotes.
Pedimos pão, queijo e vinho…..
Os velhotes, nada habituados a ver juventude por ali, imediatamente se abeiraram de nós e começaram a meter conversa e a oferecer-nos mais um “copito” com que brindámos felizes da vida.
Então, um deles, resolveu ir buscar uma viola… E de repente, tínhamos um grupinho de idosos a cantar para nós!….
Foi…Belíssimo… Belíssimo, mesmo.
No alto daquelas muralhas, alcandoradas num monte de onde se via a velha inimiga Castela, senti-me mais perto do Céu do que nunca, não só pela paisagem quase sobrenatural, mas pela simpatia com que fomos recebidos, pela imensa sorte dos amigos fabulosos que ficaram para a eternidade, pela partilha de conversas sobre tudo e sobre nada mas sempre prenhes de inteligência, pelo dia, pelo momento, pela surpreendente Beleza quase etérea.
Foi de facto, um dos dias mais felizes da minha vida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

AUSENCIA

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'