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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Monsaraz - parte 1

Monsaraz

Estava no 3º ano da faculdade, quando fui pela 1ª vez a Monsaraz acompanhada por um grupo fabuloso: Manuel Piçarra, Carlos e Helena Valverde, António Conde, Zézé Reis e Ana Pereira.
Naqueles tempos os “meninos” não iam para a faculdade de carro, poucos eram os que tinham tal “gadget” e foi graças ao velho Peugeot do nosso amigo “Maneli”. (bocha para os amigos), que lá fomos todos encavalitados, em passeio.
O dia estava luminoso e a estrada escorria devagar entre tons de azul, verde e amarelo das giestas em flor.
Parámos pelo caminho para apreciar uma olaria típica, e comprei uma peça de artesanato, que ainda hoje guardo com imenso carinho na sala de jantar.
Monsaraz surgiu imponente na paisagem…. _O Alqueva era ainda uma miragem longínqua e discutida pelo seu impacto paisagístico e ambiental_.
Na altura, só alguns conheciam e frequentavam aquela magia inigualável… Hoje, qualquer turista que se preze, já por lá andou, explorou, filmou e fotografou.
Entrámos em Monsaraz e sentimo-nos imediatamente envolvidos por um silêncio e uma Paz, que só se encontram nas grandes catedrais.
Entre brincadeiras e piadas, sorrindo só pela beleza do dia e pelas companhias agradáveis e sinceras, entrámos numa tasca onde apenas estavam 3 ou 4 velhotes.
Pedimos pão, queijo e vinho…..
Os velhotes, nada habituados a ver juventude por ali, imediatamente se abeiraram de nós e começaram a meter conversa e a oferecer-nos mais um “copito” com que brindámos felizes da vida.
Então, um deles, resolveu ir buscar uma viola… E de repente, tínhamos um grupinho de idosos a cantar para nós!….
Foi…Belíssimo… Belíssimo, mesmo.
No alto daquelas muralhas, alcandoradas num monte de onde se via a velha inimiga Castela, senti-me mais perto do Céu do que nunca, não só pela paisagem quase sobrenatural, mas pela simpatia com que fomos recebidos, pela imensa sorte dos amigos fabulosos que ficaram para a eternidade, pela partilha de conversas sobre tudo e sobre nada mas sempre prenhes de inteligência, pelo dia, pelo momento, pela surpreendente Beleza quase etérea.
Foi de facto, um dos dias mais felizes da minha vida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

AUSENCIA

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Carta ao 1º ministro Pedro Passos Coelho

Ao Ex.º Sr. Primeiro Ministro de Portugal
Dr. Pedro Passos Coelho:


Na sequência da sua missiva aos portugueses, via facebook, venho também, através deste meio, dirigir-me a vossa Ex.ª na esperança de ser lida num intervalo que decerto terá entre as diversas viagens e o difícil desiderato de governar Portugal.
Não estou aqui para falar de mim, uma simples engenheira zootécnica, profissionalizada no ensino e exercendo a profissão há 24 anos.
Obviamente que as medidas tomadas pelo seu “competentíssimo” governo, me afectaram a mim e às minhas duas filhas como v.ª Exª deve estar cansado de saber. Ficar de repente sem abono de família e com uma menor % do vencimento mantendo as mesmas despesas e suportando a inflação causada pelo IVA e afins não tem sido tarefa fácil_ nem para mim, nem para os meus colegas de profissão que, como deve saber, além das dificuldades de colocação estão sujeitos a trabalhar longíssimo de casa, sem quaisquer ajuda de custos.
Vivendo num meio predominantemente rural queria falar-lhe das crianças! _ Sim, também é pai não é??...
Como se sentiria o Dr. Pedro, trabalhando num local em que sabe que as crianças fazem a única refeição decente na cantina da escola, sabendo também que muitos dos que tinham “escalão” A e B , o perderam, não podendo ir a visitas de estudo, comprar livros ou cadernos, saindo de casa às 7 da manhã e voltando às 19 horas??...
Como se sentiria o Dr, Pedro, se fosse tomar pequeno almoço ao bar do parlamento e tivesse ao seu lado uma criança que mete conversa consigo e não tira os olhos da sandwiche que está a comer???....
Que sentiria o Dr. Pedro se perante uma situação dessas perguntasse ao aluno: “ queres comer alguma coisa??... E o aluno respondesse timidamente que estava mal disposto??? E se insistisse perante a referida “má disposição” , será que vossa exª se calaria ou perguntaria ao aluno “ que é que te apetece??”… E o aluno esticasse os olhos para um bolo???....
Faria como eu, certamente, e discretamente compraria a fatia de bolo à criança que toda contente, iria a correr para a aula comendo-a em rápidas dentadas, não é??....
Pois é dr. Passos Coelho!! Eu não sou economista mas pressinto que o aumento de custo de vida não vai aumentar a produtividade, nem que a “a vaca tussa”, mas sim desgraçar milhares de famílias que perdem a casa, o carro, os electrodomésticos, whatever.
Perceberá com certeza vossa excelência, que não há pessoas com coragem para investir em nada neste País, correndo o risco de ficarem empenhadas até aos cabelos perante a retracção do consumo e recessão mais que anunciada.
Vamos diminuir o consumo interno, obviamente, a troco de quê???
Vamos exportar o quê e para onde???
Quais são os países com os quais poderemos competir nos mercados internacionais?? China?? Índia??....
Sr Dr Passos Coelho, os nossos vizinhos gregos tomaram a mesma “aspirina” que nós e têm o estômago a sangrar. Porque acha que connosco a panaceia vai resultar??....
Já vai longa a minha missiva e muito menos lírica do que aquela que dirigiu aos que em si votaram.
Se tiver a bondade de responder às minhas questões, terei todo o prazer em lê-las….
Ah… E já agora, explique-me porque os deputados se podem reformar ao fim de 12 anos de árduo trabalho na Assembleia da república, têm ajudas de custo , veículos oficiais de alta cilindrada e os governantes têm o futuro assegurado numa empresa público-privada….
Subscrevo-me atentamente:

Isabel Quelhas Ribeiro.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Para ti amiga.....

Minha querida amiga :

Se calhar precisaste de mim e não disseste e não telefonaste! Se calhar, eu andava tão absorvida com a minha "vidinha" que não percebi o drama que estavas a viver!!...Mea culpa 1000 X!!! Quantas vezes nós julgamos que está tudo bem com os outros e não está! Não está mesmo nada bem... Que Deus te acolha no seu amor!



A morte é a curva da estrada

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa, Cancioneiro



terça-feira, 15 de novembro de 2011

Lene Marlin - Sitting Down Here (Live @ TOPP) NORUEGA!!!!




O manual da boa vida: A rica Noruega cultua a igualdade e o bem-estar coletivo sob um Estado-babá que a todos provê

06 de novembro de 2011

JESÚS RODRÍGUEZ – EL PAÍS – O Estado de S.Paulo

Simples em sua complexidade, como sempre acontece na arquitetura nórdica; erguida sobre o mar; imersa em um parque imaculado pavimentado de pedras brancas e semeado de violetas no qual, quando surge um raio de sol distraído, brota uma maré de bebês e aposentados em trajes esportivos. Com nove séculos de história, a catedral luterana de Stavanger, na costa sudoeste da Noruega, é a mais antiga do país. Seu interior mudo, pulcro, sombrio, sem imagens, no qual as tábuas do piso rangem sob os passos dos fiéis, é o melhor reflexo da frugal maneira escandinava de interpretar a vida, em que o luxo e o alarido são um pecado cívico e moral. O negro e o cinza são as cores deste país. Mimetizam os noruegueses com seu ambiente, os uniformizam e fazem com que seja difícil detectar a diferença de classes. “Não pense que você é especial”, rezava a filosofia igualitária do país.

Esse templo multicentenário de Stavanger encerra outra metáfora da alma da Noruega. Ele não tem rígidos bancos corridos de madeira como nas igrejas católicas, onde os devotos se acotovelam. Aqui cada fiel ocupa um amplo e idêntico assento individual almofadado com um pequeno espaço para descansar o livro de orações sem incomodar o vizinho. Cada poltrona é uma ilha. Descendo um pouco o olhar, percebe-se que todas são unidas por braçadeiras metálicas. Cada assento ocupa o próprio espaço, mas é impossível separá-lo de sua fileira.

Juntos, mas não em desordem. Os noruegueses são assim. Um povo que, além da riqueza proporcionada pelo mar, por seus bosques e por seu petróleo, baseou o sucesso econômico e social na reconciliação do seu individualismo – herança de um passado de pescadores e camponeses isolados em cabanas de madeira e em contato íntimo com uma natureza bela e dura – com o extremo oposto: um profundo sentido comunitário que aposta no bem de todos, na igualdade, na solidariedade e, principalmente, na confiança no Estado-babá, que se ocupa do bem-estar dos seus cidadãos mediante os programas sociais mais generosos e não discriminatórios do planeta. Ao mesmo tempo, esse Estado regula grande parte da vida dos noruegueses (sua educação, saúde, aposentadorias, relações trabalhistas e distribuição da riqueza) sem que aparentemente ninguém se incomode.

Na Noruega, o serviço militar é obrigatório e 95% das escolas são públicas. O IVA (Imposto sobre Valor Agregado) chega a 25%. O petróleo é propriedade do Estado. E os bons estudantes recebem generosos empréstimos do Estado para que possam frequentar as melhores universidades do mundo. O Estado controla até o consumo do álcool, mediante a rede de lojas Vinmonopolet, as únicas na Noruega onde é possível comprar bebidas de mais de 4,75 graus de teor alcoólico – a um preço até três vezes maior que na Espanha. Uma das atividades preferidas dos noruegueses é saquear as prateleiras das lojas isentas de impostos sobre bebidas e cigarros nos aeroportos quando saem do país.

Enquanto o sonho igualitário do Estado do bem-estar, cunhado depois da 2ª Guerra Mundial, que estruturou desde então a convivência na Europa, é questionado diante do avanço do neoliberalismo e da crise financeira, a Noruega, uma das inventoras desse sistema, luta por continuar nessa direção. Está em seu DNA. Ela faz o que quer, como vem fazendo há mil anos, quando seus antepassados vikings se lançavam ao mar nas embarcações drakkar. Representa uma mescla equilibrada de mercado e planejamento, idealismo e realismo, neutralidade e ânsia por influência, ingenuidade e estratégia. A questão é dar para receber. “Sou generoso com meus impostos porque o Estado é generoso comigo.” Um contrato entre a comunidade e o indivíduo que dura até a morte. Quem tem mais, tem mais responsabilidade. E não é difícil saber quem é. A informação sobre a renda de cada cidadão está na internet.

A Noruega caminha discreta e sem sobressaltos por essa terceira via que a converteu em potência silenciosa, um Estado nem emergente nem emergido que ocupa há 30 anos a primeira posição no Índice de Desenvolvimento Humano. Seus níveis de desemprego são risíveis; sua renda per capita, a maior do planeta; seu crescimento, depois de três administrações titubeantes, se aproximará este ano de 3%; sua dívida soberana é a mais sólida do planeta; e o país tem por lei a igualdade de gênero tanto no setor público como no privado. Arnie Hole, diretora geral do Ministério da Infância, Igualdade e Inclusão Social, confirma que tem um orçamento de 5 bilhões ( 1 mil por habitante), “mais que a soma dos Ministérios da Pesca, Agricultura e Cultura juntos”. O Estado do bem-estar chega à arquitetura, que deve “optar por soluções ecológicas e energeticamente sustentáveis, ser de boa qualidade, promovida pelo conhecimento e a concorrência e internacionalmente visível”.

A Noruega não se parece com nada, nem com o restante dos países nórdicos, sob cujo jugo transcorreu parte da sua história. Os noruegueses arrastam certo complexo de inferioridade em relação aos vizinhos, aliviado nas últimas décadas pelo bálsamo dos petrodólares. Até os anos 70 ela era o primo pobre da Escandinávia. “O que um norueguês mais desejava era ter um Volvo com motorista sueco”, explica uma professora da capital. “Em parte, conseguimos isso; todos os garçons de Oslo são suecos, ganham mais que no seu país (não menos que 2 mil) e são mais simplórios do que nós.”

Os noruegueses não foram tão cosmopolitas como os dinamarqueses, nem tiveram a tradição industrial e militar dos suecos. Não tiveram colônias nem participaram de guerras. Em torno desses sinais de identidade, a Noruega criou o perfil de um país frio, confiável e eficiente. E graças a essa imagem conseguiu uma influência internacional superior a seu peso real. Tornou-se o país das doações mais generosas em matéria de cooperação internacional e um eficaz ator na solução de conflitos internacionais, como em 1993, com os Acordos de Oslo, entre Arafat e Rabin com Bill Clinton como testemunha. Ou, mais recentemente, com a ex-primeira-ministra Gro Harlem Brundtland, muito ativa no processo de paz do País Basco.

Quando eclodiam os totalitarismos na Europa, no início do século 20, ela aboliu a pena de morte e se tornou a sede do Prêmio Nobel da Paz. O rei do novo Estado, Haakon VII, exigiu antes de subir ao trono um referendo para que o povo dissesse se o queria. Ganhou. Quando teve de nomear, nos anos 20, um primeiro-ministro de esquerda, proferiu uma frase de que seu povo lembra com orgulho: “Sou rei também dos comunistas”.

Logo o mar se tornou o motor industrial do país graças à pesca e ao transporte marítimo. Os noruegueses se especializaram em navios capazes de enfrentar os maiores desafios e na construção de obras públicas. Viajar por sua geografia irregular implica atravessar dezenas de pontes estilizadas, túneis intermináveis e balsas sólidas como navios quebra-gelo. O domínio da engenharia naval foi essencial quando o país descobriu o petróleo como embrião para desenvolver uma indústria nacional e não se atirar nos braços das multinacionais. Hoje a Noruega exporta, além de petróleo bruto (é o terceiro maior exportador do planeta), conhecimento e inovação.

Seu caminho foi diferente do itinerário dos outros países nórdicos. Para começar, os noruegueses optaram em dois plebiscitos, nos anos 70 e 90, por dar as costas à União Europeia (à qual pertencem Finlândia, Suécia e Dinamarca). Dizem que foi para salvaguardar suas cotas de pesca e agricultura, mas o que realmente queriam era defender uma soberania nacional que não haviam conseguido até se livrarem, em 1905, da Suécia em uma vitória obtida sem disparar sequer um tiro.

Nessa linha de reafirmação, defenderam com ardor seu modelo de sociedade diante das instituições europeias. Estão no bloco, mas não estão. Não são membros da União Europeia, mas fazem parte do Espaço Econômico Europeu. Voltaram a valorizar sua visão peculiar de sociedade e esse caminho os manteve a salvo da recessão e dos estertores do Estado do bem-estar.

A Noruega representa um modelo irrepetível de sociedade nascido do isolamento de uma população escassa (5 milhões em um território que corresponde à metade da Espanha) e homogênea em termos de raça, cultura, religião e modo de vida (nos anos 70, 94% dos cidadãos eram de origem norueguesa, e 86%, de religião protestante), que se tornara coesa graças a um passado de opressão por parte dos vizinhos e com uma grande riqueza em recursos naturais.

A ética do trabalho tem muito a ver com o milagre norueguês. Seus habitantes são profundamente competitivos, trabalham desde jovens e logo deixam o lar paterno. Em troca, sabem que poderão contar com a proteção do Estado se as coisas derem errado. Todos devem ganhar muito dinheiro, pagar muitos impostos e gastar muito. O pleno emprego é a espinha dorsal do modelo. O cidadão trabalha e paga impostos para custear a educação dos jovens e as aposentadorias dos velhos, assim como os velhos financiaram com seus impostos a educação dos filhos e estes pagarão suas aposentadorias no futuro. Os noruegueses se consideram cidadãos iguais que caminham na mesma direção, sem distinção entre homens e mulheres. É o que confirma a ministra de Igualdade, Arnie Hole: “A igualdade tem um componente moral, mas o motivo principal é econômico. Uma economia moderna e competitiva precisa das melhores cabeças e mãos sem olhar de que raça são ou de que sexo são. Nenhuma mulher na Noruega deve ser forçada a escolher entre família e carreira. Criamos 10 mil creches. As mulheres podem tirar um ano de licença maternidade com 80% do salário (ou dez meses com 100%), e os homens, 12 semanas. Conseguimos que 80% delas trabalhem e, ao mesmos tempo, que 82% tenham filhos pequenos. Este é o nosso futuro”.

A partir desses elementos, os noruegueses construíram uma sociedade na qual a distância que separa os ricos dos pobres é pequena. Estão convencidos de que a desigualdade é corrosiva. Alguns dizem que a Noruega é o último país socialista da Europa. A sede do Partido Trabalhista, inspirador do modelo norueguês desde os anos 30, parece confirmar isso, com seu estilo muito próximo do realismo soviético. Percorrendo os corredores art nouveau do edifício, as janelas estão quebradas e cobertas por placas de compensado. As portas estão fora dos batentes. A do gabinete do ministro tem uma rachadura no centro. Todo o bairro se encontra cercado e em obras. Os destroços são resultado da bomba colocada pelo ultadireitista Anders Breivik no dia 22 de julho. Em consequência da explosão morreram oito pessoas; em seguida, Breivik acabou a tiros com a vida de 69 jovens simpatizantes do Partido Trabalhista na ilha de Utoya. Foi a maior comoção no país desde a 2ª Guerra. Mas os noruegueses estão decididos a não mudar seu estilo de vida. No bairro, a presença policial é mínima e é possível o acesso a alguns edifícios governamentais sem passar por um bloqueio de segurança. O ministro das Finanças exorciza a tragédia afirmando que o cimento da sociedade norueguesa continua sendo o diálogo. Quando perguntamos se usa escolta, responde piscando um olho: “Às vezes sim, às vezes não…”

A Noruega ficou muito rica. E começou a atrair imigrantes. Quando se iniciou o boom do petróleo havia 1,3% de imigrantes; em 2000, cerca de 5,5%; em 2009, 8,8%. Neste ano, cerca de 13%. Primeiro foram os nórdicos, depois os latino-americanos, mais tarde os balcânicos e centro-europeus. Os últimos foram os paquistaneses, iraquianos, somalis e afegãos, com seus véus, albornozes, mesquitas e tradições. Na Noruega vivem 200 mil pessoas de religião muçulmana. Um choque de diversidade que ninguém esperava neste país uniforme.

A chegada do tsunami multicultural teve uma consequência imediata em amplos setores da classe trabalhadora norueguesa que tradicionalmente votavam na esquerda: eles perderam a confiança no Estado. Centenas de milhares de noruegueses acharam que esses imigrantes que se abrigavam sob o guarda-chuva social norueguês, que eram hospedados em habitações públicas, recebiam 1.200 ao mês para assistir às aulas de introdução à língua e cultura norueguesa e outros 700 para cada filho, que se beneficiavam de suas creches, educação e sistema de saúde, estavam se aproveitando de sua generosidade. O resultado foi o rápido crescimento, a partir de 1997, do Partido do Progresso, agremiação na qual se mesclam ultraliberalismo, nacionalismo e xenofobia, que começou a falar em seus comícios de “uma islamização silenciosa da Noruega” à qual “era preciso pôr um freio”.

Nas eleições de 2009, ele obteria 23% dos votos, tornando-se a segunda formação política depois dos trabalhistas. Anders Breivik militou nesse partido. Depois do atentado, o Partido do Progresso perderia 10 pontos nas eleições locais de setembro. Em todo caso, formadores de opinião noruegueses tentam afastar a inquietação ressaltando com desdém o vigor do sistema norueguês e enfatizando que o Partido do Progresso “é democrático, e se alimenta pretensões a governar, deve se manter dentro do sistema e assumir suas responsabilidades”.

É possível detectar um alívio generalizado pelo fato de o assassino de 22 de julho ser um norueguês e não um imigrante muçulmano. Um professor de Oslo confirma: “Dentro da tragédia, agradecemos ao destino que o terrorista fosse alguém daqui e não um paquistanês da Al-Qaeda. Se isso tivesse ocorrido, o sistema norueguês, baseado na confiança, teria ido pelos ares. Ao pensar que foi um norueguês sozinho, louco, isolado, que isso não se repetirá, e portanto, não colocaremos um policial em cada esquina, estamos protegendo nosso modelo com vistas ao futuro. Mas, queiramos ou não, a imigração é a batata quente do modelo norueguês. E teremos de solucionar o problema”.

Tags: Internacional, Noruega

domingo, 13 de novembro de 2011

Era - Don't go away




"Análise"

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
Fernando Pessoa, 12-1911

"Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível." (Francisco Fuinhas Max)

País - Dom José Policarpo afirma que quem governa está a perder poder - RTP Noticias, Vídeo

País - Dom José Policarpo afirma que quem governa está a perder poder - RTP Noticias, Vídeo

Quando deixamos de O sentir caminhar ao nosso lado, é quando Ele nos pega ao colo....

http://youtu.be/CXpOVU9Nx6g


..... Dos fracos, não reza a história.... Mas enfim.... Isso era o que dizia a minha querida mãe, Adelaide, que viveu e morreu estoicamente!!!



(Escrevo este artigo a propósito de um artigo da Visão de 11. 11. 2011 sobre a “baixa médica” do economista e banqueiro, António Horta Osório, o 1º português a ser nomeado presidente do 8º maior banco do Mundo, o LLoyds, em Londres.)

ESTOU ESTOIRADA!!!!! TODOS OS DIAS QUANDO ME LEVANTO, PROMETO A MIM MESMA: "QUANDO CHEGAR A CASA, DURMO UMA SESTA!".. .MAS DEPOIS, HÁ QUE IR AO SUPERMERCADO, ARRUMAR A CASA.. AQUELAS COISAS QUE AS "GAIJAS" FAZEM... E A SEGUIR SENTO-ME SOZINHA NO SOFÁ, COM A GATA AO LADO, A TV E A NET EM FRENTE, E UMA PILHA DE 6 TURMAS DE TESTES DE CIÊNCIAS PARA CORRIGIR!!.....SO WHAT??....
_ ÀS VEZES PERGUNTO-ME PORQUE É QUE O HORTA-OSÓRIO DO LLOYD'S "METEU BAIXA" E ESTÁ A FAZER UM TRATAMENTO DE SONO... E EU TENHO QUE ME AGUENTAR AQUI._
O SEGREDO??... QUANDO ME SINTO SEM FORÇA PARA PEGAR A GATA PELO RABO, REZO UMA ORAÇÃO PESSOAL E SINTO QUE QUANDO NÃO CONSIGO DAR MAIS UM PASSO, DEUS ME PEGA AO COLO. ( Isabel)

“ O limiar da resistência é intrínseco cada pessoa e depende de factores genéticos e do ambiente – a forma como viveu a infância e até a vida intrauterina. Mas ninguém está imune. “Precisamos de admitir a vulnerabilidade para pedir ajuda. O empresário de topo, por vezes, está muito só”, nota Isabel Rodrigues, que desenvolve um trabalho de coaching em gestão de stresse junto de quadros empresariais. “ O primeiro passo é assumir o problema perante si próprio, para depois pedir ajuda ao médico”, reforça Luis Patrício, 56 anos, psiquiatra.”
“Para combater o stresse, os especialistas são unânimes: é preciso cultivar outros interesses. “ O sucesso profissional tem de existir em equilíbrio com mais aspectos da vida”, sublinha o psiquiatra Alfredo Frade, 60 anos. (….) _A sua própria estratégia para aguentar a pressão consiste em praticar natação, andar muito a pé, tratar da família e sustentar uma paixão pelo cinema e pelos livros_”
“ É importante alimentar os valores espirituais, religiosos, socioculturais”, acrescenta Isabel Rodrigues. “ Adoptar uma atitude diferente face aos nossos agentes de stresse é também treinar as competências de inteligência emocional: a autoconsciência, a autogestão, a consciência social e a gestão de relações”, clarifica. (…) “porque gerir o stresse é um tema de atitude.”
Tornou-se conhecido, em Portugal, o caso de João Ermida, 46 anos, que era responsável global pela tesouraria e mercados financeiros do grupo Santander, e adorava viver sob stresse como confessou numa entrevista. Mas, ao fim de 11 anos a ter ataques de pânico, decidiu cortar com a alta finança. O medo assumia o controlo da sua vida, deixava-lhe as mãos a tremer e o coração acelerado. Começou a tomar calmantes às escondidas porque no mundo dos negócios, isso parece uma fraqueza. (…) Escondeu da família os ataques de pânico que sofria até que se demitiu. Em 2008 publicou o livro Verdade, humildade § solidariedade cuja escrita foi uma forma de terapia para os seus problemas, denunciando o cinismo e a crise de valores que contaminam o mundo financeiro.(…)”
“Perante o mesmo nível de stresse, a resposta difere de pessoa para pessoa. (…) São mais vulneráveis os novelty seekers (qualquer coisa como os buscadores de novidades), mais flexíveis, que não gostam de rotinas, praticam desportos radicais. ( Curiosamente tornou-se público que Horta Osório aprecia nadar com tubarões).”
“ O stresse é como uma tensão numa corda do violino. É necessária uma tensão suficiente para criar música, mas não demasiada, senão a corda rebenta e, em vez de música, ouve-se ruído”, ilustra a especialista Isabel Rodrigues. “ há aí muitos casos. Estão é escondidos.”

Obrigada mamy, porque me ensinaste a Crer em Deus e a encontrar na Fé, a minha força. Haja o que houver.
Isabel.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Tiger in the Night - Katie Melua (HD Video)



For my tiger.... he will come one day!!!
A big and strong TIGER!

sábado, 8 de outubro de 2011

Entrega





(GIANT WAVES ARE ONLY FOR SPECIAL MEN)
Senhor:

Porque não me fizeste simples, linear, ingénua, iletrada, acomodada???
Porque me criaste, Senhor, cheia deste anseio de saber, conhecer, perceber, entender, defender, combater????...
Sabes o preço que pago por ser como sou, não sabes??
Conheces a minha incapacidade de ignorar a mentira, a falsidade e a hipocrisia,
a minha incapacidade de dizer sim ao que é não, de baixar a cabeça perante quem sempre mandou??
Não vês que é difícil ser-se politicamente incorrecta e muito mais cómodo ter uma atitude passiva, indiferente, "adaptada"???

E depois, sabes Senhor, os homens nunca gostaram de mulheres independentes, capazes, inteligentes, cultas, convictas, lutadoras, capazes de os enfrentar e dizer NÃO!

Olha, Senhor, para as nossas mães: quantas vezes fingiram que não perceberam, quantas vezes disseram que sim quando era não, quantas vezes subtilmente sobreviveram, fortes por dentro, frágeis para agradar???

Olha, Senhor, para a História,_ Michel Quoist afirma que Deus está fora da História pois para Ele, não existe Tempo_, mas olha: As chinesas atavam os pés, camihando em passos pequeninos e desequilibrados de cabeça baixa, as africanas eram (e são) mutiladas, as europeias espartilhadas, as Indianas queimadas pela família do marido, as árabes tapadas, proibidas de conduzir ou ter profissão!!....
_Não era no seculo XIX que se considerava que as mulheres que sentiam prazer ou desejo era "histéricas"??...._

Porquê Meu Senhor, Tu que ao ressuscitar apaceceste primeiro às mulheres, Tu, Senhor, que fizeste perdoar Maria Madalena, conheces tudo e tudo sabes!!

A Verdade é que os homens temem as mulheres. Por isso as castram, minimizam, inferiorizam, dominam!
E Tu sabes , Senhor, que no ano passado, em Portugal, foram mortas 4 dezenas de mulheres por violência doméstica, não sabes??

Senhor, Tu que estás dentro das Mulheres e dos Homens de bem, segreda aos últimos que chega de domínio e repressão!!...Ensina-lhes que não há nada a temer, que só há que respeitar e Amar!!

Ouve a minha oração, Senhor, a simples e imperfeita prece de uma mãe de duas mulheres!!!

Faz com que sejam amadas e não temidas!!!

Isabel.

domingo, 2 de outubro de 2011

Ser Mãe







SER Mãe



Quando a minha mais velha nasceu, recebi a visita de várias amigas, quais fadas madrinhas. Uma delas disse-me uma frase que me ocorre frequentemente e que creio que por muitos anos que viva, jamais esquecerei:
_” Belinha….. Não há nada que se compare ao amor que sentimos pelos filhos!! São os únicos seres plos quais damos a vida sem hesitar! Por muito que amemos os nossos maridos…..Se nos pedirem para dar a vida por eles, ainda pensamos duas vezes; pelos filhos, nem um segundo.”
Frases mais certa não existe: os casamentos desfazem-se mesmo que neles ainda exista amor, as amizades apagam-se por circunstâncias da vida…. Mas o amor maternal é eterno e incomensurável.
Mesmo quando chega a adolescência e eles nos tratam como perfeitos ignorantes e nos falam como se tivéssemos a idade deles….ao ponto de nos dizerem: “ oh mãe, vai-te tratar!”_ e aí a dor que nos infligem é tão profunda e tão grande como uma espada que nos atravessa o coração ao ponto de naqueles momentos preferirmos mil vezes um camião de 100 toneladas em cima, do que aquela dor que nos esmaga o coração_....

Os amigos aconselham-nos: “ Não ligues!...É próprio da idade!! Releva!! Issa há-de passar… Na minha casa é o mesmo!....Nós na nossa idade… blablabla…. “_ Quem é mãe, sabe.
Depois a coisa complica-se…Quando há um divórcio, já por si complicado.
Complica-se porque o lado paterno não chateia (as filhas): afinal…que há para chatear quando se está um dia e meio por semana??.....
Depois há a ciumeira natural de quem ama demais e que os filhos entendem como embirração, desequilíbrio, whatever.
Sim: é a nós que compete estar sempre no pedestal de mães impecáveis quase Nossas Senhoras de trazer por casa, sempre compreensivas, bem dispostas, mães e braços abertos…. E depois há as bocas foleiras: “ estás sempre cansada!”_Que doiem que nem espinhos cravados na testa de Cristo_ Deus me perdoe a comparação.
E depois….. Há a constatação de que a Força da mãe foi herdado por uma das filhas…(maldita genética) : “antes quebrar que torcer”.
Errei filhas…. Errei por vos amar demais e por vos querer demais.
Errei por não estar sempre paciente e de braços abertos.
Errei por ter momentos em que me apetece partir a louça toda.
Errei por descarregar as más disposições de um divórcio do qual não foram culpadas.
Agora pergunto-vos: que mais posso fazer????.....
Só uma única coisa: Falem, ensinem-me a ser melhor mãe. Ensinem-me a abrir os braços como Nossa Senhora…… Mas não se esqueçam: se me amam, para que isso aconteça não se calem e não me digam nunca: “não temos mais nada a falar!”.
Infelizmente , nasceram sem manual de instrução, minhas filhas.
Concentrem-se, aliás, concentremo-nos no que de bom vivemos, partilhámos…e pensemos no que de bom ou de mau nos resta partilhar…Porque a vida é tão curta….e o Amor de mãe….. Infelizmente, é daqueles que só se sente quando se perde.

Beijos.
Mãe.

(Isabel)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

" OS QUE NOS REPRESENTAM"

Dizem "esposa" em vez de mulher, põem no perfil mestrados que não completaram_ feitos em universidades abertas e afins_ , têm o síndroma Strauss_ Khan: o poder é afrodisíaco!!!
Gabam-se de não pagar nada a prestações e trocar de carro de 3 em 3 anos;
comem de boca aberta como as minhas filhas nunca comeram nem aos 3 anos;
quando nos apresentam aos amigos dizem esta é a ENGENHEIRA /DOUTORA/WHATEVER/, em vez de esta é a Isabel; _ errado: em contexto de amizade é pedante mencionar os títulos académicos. Só em contexcto profissional é admissível: mas "eles" não sabem isso!
Se uma senhora mais velha se levanta da mesa do almoço/ jantar para se despedir, só com uma "canelada discreta" e depois de eu me levantar, se levantam para a cumprimentar ...
Ficam nos melhores hoteis e turismos rurais pagos com o NOSSO dinheiro...Não se deslocam sem combustíveis e subsídios pagos pelo Estado.
Quando dizemos que estão a dar cabo da classe média , respondem que "é a lei da selva e só os mais fortes sobrevivem"... São perfeitamente narcísicos, não passam sem ginásio diário, maníacos dos cremes e das massagens.... e dizem com todo o descaramento que não sabem o que é a beleza interior pois nunca "seriam capazes de sair acompanhados por uma mulher que não fosse linda".
Quando se fala em arte e poesia acham uma maçada.... Quando se fala nas pessoas que amámos e perdemos, somos hipocondríacas e ainda têm o mau gosto de nos dizer :" depois de mortos todos são bons!!"
É por ter o azar de conhecer exemplares como estes , que se desmascaram em 4 dias de convivência, que eu concluo:
Não quero homens destes na minha vida e mais... Não quero humanos destes a representarem-me!

Isabel

sábado, 27 de agosto de 2011

A última noite daquele Amor.

A última noite daquele Amor.

A cama grande, dela, só é desfeita até meio. Do outro lado, almofadas e almofadões compõem recordações que ela todos os dias afasta e todas as noites lembra ao deitar…e relembra ao levantar.
Foi um relacionamento longo que começou por ser uma grande amizade (durante mais de um ano) e que, com o tempo e os encontros esporádicos se transformou nalgo inesperado mas perfeitamente “adivinhavel”.
Jovens, cultos, católicos, com princípios e valores semelhantes , entre eles as conversas prolongavam-se tempos sem fim….. E eram sempre intermináveis….
A timidez dele e a insegurança dela fizeram com que o percurso desta relação não fosse nunca linear…Entre os zigue-zagues da vida, ambos cresceram e descobriram que se amavam mais do que aquilo que puderam imaginar.
Apenas algo os separava: e esse apenas era tudo: a distância geográfica e a dedicação familiar, comum a ambos.
Ele sabia que mais tarde ou mais cedo iria para o estrangeiro.
Ela pensou que aguentaria: os encontros mensais ou bimestrais, as sms’s, os e-mails…e os telefonemas….
Naquela noite de Inverno, ele , não aguentando as saudades, recém-chegado de um voo intercontinental e com voo marcado para o outro dia, meteu-se no carro e percorreu com olhos cansados os 100 kms que os separavam.
Ela, feliz, recebeu-o com o chá tardio, as bolachinhas, o incenso, as velas por aqui e por ali, e a música suave do costume.
Depois de muito conversarem e a escrita em dia, entregaram-se um ao outro pelo amor que os consumia.
Ele tomou o seu lugar na cama dela. Ela aconchegou-se e ele abraçou-a adormecendo tranquilo e feliz.
A noite foi de tempestade como há muito não acontecia: relâmpagos, trovões, chuva forte e intensa fazendo-a temer pelo voo que o esperava no dia seguinte.
Quando ela estremecia com os trovões mais fortes que intermitentemente a acordavam, ele nem se movia, apenas a abraçava mais, sem uma palavra.
Noite de temor, de desassossego, como que divinatória do fim daquele amor condenado.
De manhã, ainda a luz não despontava e a calma não sobrevinha, ele acordou-a suavemente, e entregaram-se novamente com terna intensidade, e um ardor inusitado.
Depois ele levantou-se e saiu.
Ela ficou um pouco mais a saborear a beleza dos momentos que entrelaçados criaram….até que se fez horas de seguir para mais um dia de trabalho normal: Como se nada tivesse acontecido.
Voltaram a telefonar-se e a falar algumas vezes…Ela começou a impancientar-se com a impossibilidade de ele voltar proximamente a Portugal….Até que um dia, ele disse lá do outro lado do telefone de outra parte do mundo_ sempre dentro da sua lógica matemática e pouco romântica, como era seu apanágio: _ “Acho que precisas de alguém que te possa dedicar mais tempo e a atenção que mereces!”.
Ela concordou e desligou o telefone lavada em lágrimas silenciosas.
Foi a última vez que falaram.
A partir desse momento, nunca mais ninguém visitou aquela cama, aquele espaço, preenchido de almofadas e almofadinhas: o lugar dele.
Passaram 8 meses. O lugar continua à espera de alguém que lhe dê_ a ela_ mais tempo e atenção.
Todas as noites ela se deita naquela cama com um lugar guardado, preenchido de almofadas e almofadinhas e mais que tudo, cheia de recordações que ela faz por ignorar , da noite mais bela da sua vida.

The end.

Isabel

terça-feira, 23 de agosto de 2011

MANIQUEÍSMOS E OUTROS "ISMOS"

Maniqueísmos e outros “ismos”.

Não gosto do conceito maniqueísta: “isto e Bom, aquilo é mau”!
Nada é perfeito e até o “melhor” ideal tem defeito.
Por vezes sou criticada e perco amigos por ter as ideias muito estruturadas e cimentadas na minha cabeça…. Vou só dar 4 exemplos:

1.Touradas: Pelo meu ponto de vista, a tourada é, além de uma tradição, um meio de subsistência do touro bravo, (que só existe na Península ibérica), e de tudo o que o rodeia nomeadamente ganaderos, campinos, manutenção de prados, etc etc….
Atacam este argumento chamando-me sádica pois aplaudo o sofrimento do touro!! Não!! ….Não aplaudo o sofrimento do touro, não! Aplaudo a arte equestre, o valor tauromáquico, a coragem dos forcados, o bailado do toureio a pé!
E se o touro sofre… quando naquela pele grossíssima (couro), leva umas farpas…Visitem um matadouro…e vejam como eu fui obrigada a ver…animais há 48 horas sem comer a caminharem para a morte em “fila indiana”!... E não são mortos suavemente nem com anestesia!! São mortos com uma faca na jugular que os sangra, pendurados por uma perna…E ainda estando a mexer, levam com uma pistola de ar pressurizado nas articulações para separar a pele do músculo!…. E os borregos e cabritos..parecem bebés a chorar!!!
E eu chorei no matadouro, sim chorei…E tive pesadelos durante uma semana!!!....
Por acaso, nunca chorei numa tourada! Na tourada o touro investe e luta..não foge do toureiro como faria um animal manso!!! Muitas vezes os toureiros saem de lá bem mais magoados do que os touros!!....
Quem é contra as touradas deixe de comer CARNE e seja coerente!!!

2. Monarquia: A monarquia é para mim o sistema mais isento e natural que pode haver visto o rei/rainha ser educado desde criança para tal e não depender de dinheiros, campanhas eleitorais e partidos para vencer!!
Tivemos monarcas menos bons, reconheço!!!
Mas se a monarquia fosse algo decrépito, anacrónico, não me parece que os Países mais evoluídos do Mundo mantivessem esse sistema e adorassem os seus reis: vide Holanda, Suécia, Noruega, Inglaterra, Espanha, Bélgica, Luxemburgo, etc….
Dizem-me que as repúblicas nos dão o direito de escolher o Chefe de Estado…e que esse direito é dado a qualquer pessoa maior de 35(?) anos.
Será mesmo???.....
Então porque é que uma colega minha da Universidade de Évora que quis concorrer a Presidente da Rapública, e recolheu as não sei quantas mil assinaturas… Foi impedida no último minuto com a desculpa de que as assinaturas reconhecidas não estavam agrafadas???
Qualquer um pode ser presidente da república??? Sim! Pode! Desde que tenha uma boa máquina partidária a apoiar… e dinheiro para a campanha!!
Vide USA e os milhões que se gastam…..
Como diz o Senhor Dom Duarte, um Rei é uma bandeira de fato e gravata…e eu tenho a certeza de que se tivéssemos um Rei em vez de um presidente a esta hora não estávamos a receber os recadinhos do PR via facebook!.....Um PR que já foi 1º ministro e que contribuiu com a sua má administração das verbas comunitárias para o estado deplorável a que chegámos????!!
Já para não falar dos custos das repúblicas versus monarquias….
As repúblicas poderão ter as suas virtudes… aliás foram os sistemas vigentes na Grécia antiga…. Como se sabe, parece que “ a coisa” não correu lá muito bem … mas por este caminho não me alongo mais pois não sou de História!
Reconheço o direito a terem ideias diferentes das minhas…. Mas agradeço que as rebatam com argumentos, que, pelo menos para mim, sejam válidos!

3. Feminismo – obviamente que não sou a favor da subjugação do homem pela mulher!!!! Apenas penso que a Mulher já sofreu demais a discriminação de género ao longo de séculos e séculos!!! Recordarei para sempre o desgosto da minha avó materna que não foi estudar enquanto os seus 4 irmãos foram!! Relembro o exemplo da minha avó paterna que em 1800 e tal saiu de casa para ir estudar para a Universidade do porto contra a vontade da família!
Sou apologista da diferença: Et vive la diference!!...Gosto de um homem que se levante para me cumprimentar, que me sirva o vinho, que me abra a porta do carro!!!
Mas sou apologista no que concerne à igualdade de direitos cívicos!!! Graças a Deus que hoje a mulher já pode escolher a profissão que quiser, desde piloto de aviões a futebolista!!! Graças a Deus que na maioria dos países foi abolida aquela espécie de lei sálica que dava preferência aos varões sobre suas irmãs!

4. Religião: Tenho como lema aquilo que me disse um dia o meu pároco: “ A vida com Deus é um Mistério…Mas a vida sem Deus é um absurdo”.
Reconheço e respeito outras religiões e quanto aos ateus espanta-me a sua necessidade premente de combater… algo que para eles não existe!!!
Apenas me espanto, não os discrimino nem os combato!!!
Meus amigos: NÃO IMPONHO AS MINHAS IDEIAS: APENAS AS EXPONHO!!!!!

Ps: E quem quiser é livre de as rebater sem agressividade e com argumentos válidos!
( Lamento: eu sou assim e nada nem ninguém no mundo me fará mudar!!!! O facto de ser cristã ensina-me a amar o “diferente”..Eu sei que é difícil…. Mas estou a tentar aprender!)
Love U!
Isabel

domingo, 7 de agosto de 2011

Quase.wmv



Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez, é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata
trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda
estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou
não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam
pelos dedos, nas chances que se perdem por medo,
nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania
de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna;
ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza
dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos
"Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria
e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse
mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam
nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina,
não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas
estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia
à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores
impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio
ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou
indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu!!!


Sara Westephal Batista

segunda-feira, 25 de julho de 2011

"Cansaço" - Fernando Pessoa



SE JESUS CRISTO TIVESSE TIDO O AZAR DE NASCER EM CORUCHE EM VEZ DE BELÉM, NEM UMA ESTREBARIA LHE ARRANJAVAM!

Confesso que estou irritada!
Ao sair do café, nesta “belíssima” vila deserta sob um sol abrasador, fui abordada por um peregrino alemão falando inglês: homem na casa dos 60 e tal anos, mais baixo que eu, com ar frágil.
Ia para Fátima pela segunda vez, e vinha desde Faro, a pé.
Carregava a mochila habitual às costas, a concha de Santiago Compostela, e no dedo um anel com a dezena.
Perguntou-me se falava inglês e onde morava o “priest”. Indiquei-lhe a casa do padre e segui caminho. Quando voltei, o peregrino estava no mesmo sítio… O padre tinha ido de férias e não há mais nenhum padre em Coruche…
Perguntou-me então onde eram os bombeiros pois como peregrino muitas vezes pernoita nas suas instalações. Fui com ele ao quartel pedir guarida para o caminhante. Foi-me contando que era protestante mas que tinha uma enorme Fé em Fátima e perguntou-me o que é que eu era: ambos trazíamos uma cruz ao pescoço. Respondi que era católica e com toda a naturalidade continuámos conversando em inglês…embora os alemães não sejam muito bons nessa língua;).
Disse-me que a última noite tinha pernoitado na casa do padre de Lavre, que em Évora tinha pernoitado na GNR e em Montemor-o- Novo no quartel de bombeiros.
Chegados aos bombeiros… Vi que havia muita agitação (Portugal está cheio de fogos como habitual), mas mesmo assim falei com o encarregado…. Que telefonou ao comandante. A resposta foi peremptória: “temos as instalações todas cheias! Estamos em estado de alerta! Até os quartos das raparigas estão ocupados…”_ Eu ainda retorqui que o senhor Klaus não precisava de uma cama pois trazia saco cama mas sim de um canto para dormir e de água ou uma mangueira para se lavar. Impossível.
Depois do “não” dos bombeiros, seguimos para o quartel da GNR. Voltei a traduzi-lo e a expor a situação ao que o guarda respondeu: não temos condições para o acolher!... E eu sei que eles têm as cavalariças desactivadas!!! Ainda disse ao gnr: “ mas deixe-o dormir na cela dos presos!”… Resposta: “Ai não, isso não pode ser!” ----
Em desespero de causa, dirigi-me ao lar de freiras. Toquei à campainha, uma irmã desceu falou muito bem comigo, sempre olhando com ar desconfiado para o pobre homem. Resolveu ligar para a Provedora da Santa casa da Misericórdia que estava de férias. A senhora atendeu e perguntou-me se ele tinha caderneta de peregrino. Tinha. A provedora telefonou para uma pensão que acolhe os peregrinos e a quem depois a Misericórdia paga. Era domingo…. A pensão estava fechada….Entretanto esperámos quase uma hora pela resposta….As irmãs arranjaram-lhe fruta e água…. Uma irmã que chegou posteriormente , mais aberta talvez, pois esteve 16 anos no Brasil, catequista da minha filha, foi buscar-lhe uma sopa quente e pão pois o pobre peregrino queria voltar ao café onde me tinha encontrado para comprar qualquer coisa para o jantar.
Depois de todas as hipóteses esgotadas….O peregrino ficou a dormir no banco de jardim que por sorte, fica mesmo defronte da GNR…. Ele estava_ e está_ com esperança de que na manhã seguinte possa usar aquela mangueira para se lavar.
Teve o à vontade de me dizer que na Alemanha há muito mais padres do que Portugal…. Eu disse-lhe que cá talvez haja menos padres pois aqui não podem casar, como ele bem sabe….:)- Sorrimos e concordámos que há esperança que esta situação mude…..
Resumindo, é triste que um homem que caminha desde Faro tendo encontrado um teto para dormir em todas as terras por onde passou, chegue a Coruche e fique a dormir ao relento!...
Pedi ao Klaus que rezasse por nós quando chegasse a Fátima e trocámos telemóveis caso ele precise de alguma coisa.
Combinou mandar-me uma sms quando chegasse a Fátima.
Desejo-lhe de todo o coração uma óptima viagem.
Isabel

sexta-feira, 15 de julho de 2011

ANIMAIS EM VIAS DE EXTINÇÃO: Nós!!!



S.O.S!!! Estamos em extinção!!!

Somos seres humanos na casa dos 40/50 anos, com filhos a estudar, profissões associadas à classe média_ médicos do serv. público, professores, economistas, whatever, divorciados, e com ordenados,_ até Dezembro_, na casa dos 1500/1600 euros.
Pagamos ao banco a casa onde vivemos e o carro em que nos deslocamos_ o que feitas as contas, apesar de ser um carro utilitário barato_, nos custou ,(com os juros bancários), no mínimo 3 mercedes!!!
Não temos casa de praia ou de campo e da nossa família, mais ou menos culta, mais ou menos brasonada, não herdámos mais do que a educação e a cultura que os nossos pais nos proporcionaram.
Não temos uma horta onde ir buscar umas couves ou uns espinafres, uma capoeira para tirar uns ovos nem um terreno para criar um porco, 3 cabras ou uma vaca.
Alguns de nós, nem varanda têm para colocar vasinhos de salsa.
Como infelizmente, na maioria dos seres da nossa geração, somos divorciados e pagamos um preço altíssimo por isso.
É a nós que estão a sufocar dia a dia, hora a hora com o aumento de impostos, com os descontos de 10 a 15% de vencimento , com a perda de abono de família ou de subsídio de Natal.
É a nós que nos espetam a faca nas costas considerando-nos privilegiados quando trabalhamos há mais de vinte anos para termos o que temos. É a nós que retiram as comparticipações da maioria dos medicamentos, e é a nós que estrangulam com as taxas moderadoras, com o aumento de combustíveis e com o preço exorbitante dos livros para os nossos filhos!!!
S.O.S desta injustiça!!!
Sentimos a nossa vida a afundar como o Titanic!!
Por favor, poupem-nos a falácia de “termos vivido acima das nossas possibilidades”!!! Recebemos honestamente o que nos pagaram pelos nossos serviços e nem tivemos sequer hipótese de fugir aos impostos!!!!
Se alguém viveu acima das suas possibilidades não fomos nós: a maioria não tem TV Plasma nem carro topo de gama!! A maioria tem e vive com coisas simples: como digo às minhas filhas, não precisamos de coisas de marca pois de marca já nós somos!!!
S.O S. Socorro!! Expliquem-me como casais sem estudos, (novas oportunidades???), alguns trabalhadores no sector primário, enchem os filhos, colegas das minhas filhas, com telemóveis de última geração, playstations, sapatilhas e jeans de marca impronunciáveis.
Ah pois: alguns têm hortas, pomares o tal porco e as ovelhas que os avós derreados cultivam e criam.
É a única explicação plausível que vejo quando oiço as conversas das minhas queridas filhas_ ainda hoje a mais nova me dizia: “ a minha colega XXX partiu um telemóvel táctil caríssimo, e na semana seguinte os pais compraram-lhe outro!..Eu tenho este antigo que faz o que eu preciso: telefona e manda mensagens!”-.
Expliquem-me por favor, como se eu fosse muito burra, porque me sinto um animal em vias de extinção!

Obrigada!
Isabel

quinta-feira, 7 de julho de 2011

"Nada me Faltará" _ Maria José Nogueira PInto

Nada me faltará
por MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTOHoje204 comentários

Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa. Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.
Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.
Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.
Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.
Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.
Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.
Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.
Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.
A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.
Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.
Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.
Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.

domingo, 26 de junho de 2011

Esquecer..... (MEC)

Como Esquecer

Como se esquece alguém que se ama ? Como se esquece alguém que nos faz falta e nos custa mais lembrar que viver ? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar ?

Quando alguém morre, quando alguém se separa – como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já não está lá ?

As pessoas têm de morrer, os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece?

Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas !

È preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. È preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor de cabeça ou coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembra-lo. Quem procura evitar o luto prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doida, honrada. È uma dor que preciso, primeiro, aceitar.

É preciso aceitar esta magoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e nos mói mesmo e nos dá cabo do juizo.

Não adianta fugir com o rabo á seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.

Dizem-nos para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrairmos a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.

O esquecimento não tem arte.

Porque é que é sempre que nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais a falta das pessoas de quem amamos ? O cansaço faz-nos precisar delas. Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós. O cansaço é uma coisa que só o amor compreende. A minha mãe. O meu amor. A Felicidade. A felicidade faz-nos sentir culpa de não a podermos partilhar. È por estarmos de uma forma ou de outra sozinhos que a saudade é maior.

Mas o mais difícil de aceitar é que há lembranças e amores que necessitam do afastamento para poderem continuar. Afonso Lopes Vieira dizia que Portugal estava tão mal que era preciso exilar-se para poder continuar a amar a Pátria dele. Deixar de ve-la para ter vontade de a ver. às vezes a presença do objecto amado provoca interrupção do amor. È a complicação, o curto-circuito, o entaralamento, a contradição que está ali presente, ali, na cara do coração, impedindo-o de continuar.





As pessoas nunca deveriam morrer, mem deixar de se amar, separar-se, nem esquecer-se, mas morrem e deixam-se e separam-se e esquecem-se. Custa aceitar que os mais velhos, que nos deram a vida, tenham de dar a vida para poderem continuar vivos dentro de nós. Mas é preciso aceitar. È preciso sofrer, dar urros, murros na mesa, não perceber. E aceitar. Se as pessoas amadas fossem imortais perderíamos o coração. Perderíamos a religiosidade, a paciência, a humanidade até.

Há uma presença interior, uma continuação em nós de quem desapareceu, que se ressente do confronto com a presença exterior. É por isso que nunca se deve voltar a um sitio onde se tenha sido feliz. Todas as cidades se tornam realmente feias, fisicamente piores á medida que se enraízam e alindam na memória que guardamos delas no coração. Regressar é fazer mal ao que se guardou.

Uma saudade cuida-se. Nos casos mais tristes separa-se da pessoa que a causou. Continuar com ela, ou apenas vê-la pode desfazer e destruir a beleza do sentimento, as pessoas que se amam mas não se dão bem só conseguem amar-se bem quando não se dão bem.

Mas como se esquecer ? Como deixar acabar aquela dor ? É preciso paciência. É preciso sofrer. É preciso aguentar.

Há grandeza no sofrimento. Sofrer é respeitar o tamanho que teve um amor. No meio do remoinho de erros que nos revolve as entranhas de raiva, do ressentimento, do rancor- temos de encontrar a raiz daquela paixão, a razão original daquele amor.

As pessoas morrem, magoam-se, separam-se, abandonam-se, fazem os maiores disparates com a maior das facilidades. Para esquece-las, é preciso choca-las primeiro.

Esta é uma verdade tão antiga que espanta reparar em como temos ainda esperanças de contorná-la. Nos uivos das mulheres das praias da Nazaré não há “histerias” nem “ignorância” nem “fingimento”. Há a verdade que nós, os modernos, os tranquilos, os cools, os cobardes, os armados em livres e independentes, os tanto-me-fazes, os anestesiados, temos medo de enfrentar.

Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas nas Caraíbas, livros de poesia – só há lembranças, dor, lentidão, com uns breves intervalos pelo meio para retomar o fôlego.

Esta dor tem de ser aguentada e bem sofrida com paciência e fortaleza. Ir a correr para debaixo das saias de quem for é uma reacção natural, mas não serve de nada e faz pouco de nós próprios. A magoa é um estado natural. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. Nós somos feitos para aguentar com ela.

Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amamos, de nos vingar-mos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, de lhe compormos redondilhas, mas tudo isso não tem mal. Nem faz bem nenhum. Tudo isso conta como lembrança, tudo isso conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada por ter sido apanhada na via publica, como um bicho preto e feio, um parasita de coração, uma peste inexterminável barata esperneante: uma saudade de pernas para o ar.

O que é preciso é igualar a intensidade do amor a quem se ama e a quem se perdeu. Para esquecer, é preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar tempo, dar dor, dar com a cabeça na parede, dar sangue, dar um pedacinho de carne (eu quero do lombo, mesmo por cima da tua anca de menina, se faz favor).

E mesmo assim, mesmo magoando, mesmo sofrendo, mesmo conseguindo guardar na lama o que os braços já não conseguem agarrar, mesmo esperando, mesmo aguentando como um homem, mesmo passando os dias vestida de preto aos soluços, dobrada sobre a a areia da Nazaré, mesmo com muita paciência e muita má vontade, mesmo assim é possível que não se consiga esquecer nem um bocadinho.

Quanto mais fácil amar e lembrar alguém – uma mãe, um filho, um grande amor – mais fácil deixar de ama-lo e esquece-lo. Raio de sorte, ó lindeza, miséria suprema do amor.

Pode esquecer-se quem nos vem á lembrança, aqueles, aqueles de que nos lembramos de vez em quando, com dor ou alegria, tanto faz, com tempo e com paciência, aqueles que amamos sinceramente, que partiram, que nos deixaram, vazios de mãos e cheios de saudade, esses doem-se e depois esquecem-se mais ou menos bem.

E quando alguém está sempre presente ? Quando é tarde. Quando já não se aguenta mais. Quando já é tarde para voltar a trás, percebe-se que há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar.

Como se pode esquecer o que só de consegue lembrar ?

Aí, está o sofrimento maior de todos. O luto verdadeiro. Aí está a maior das felecidades.

Miguel Esteves Cardoso – Publicado no Semanário Independente a 26/10/1990 (reeditado no livro “Último Volume”)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sobre o AMOR ( Freestyle Final:))


Sobre o Amor



Não se ama alguém pela curva da perna, pela silhueta da anca ou pelo redondo do peito….

Não se ama ninguém pelos longos cabelos, poses exuberantes, decotes vertiginosos, saias atrevidas.

Esses amores, são os que a minha querida mãe chamaria de amores levianos.

Ama-se pelos gestos suaves, pelo olhar terno, pelo ser e estar, pelo constatar e conversar, pelo carinho e compreensão e até pela argumentação e persistência.

Ama-se pelo conjunto corpo - Alma que é muito mais que um belo peito ou umas musculadas nádegas.

Ama-se ….Porque se confia, porque se entrega áquela pessoa a chave do nosso coração e se lhe confere, um bocadinho, o poder de nos fazer feliz… Ou não!....



Esse é o Amor por que vale a pena esperar.

Nem que se espere muito tempo.

Esse é o Amor.



Isabel

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Antony And The Johnsons 'Fistful Of Love' 2005



"We live together in a photograph of time....."

Metade do meu ADN é Delas.
Foram as mulheres da minha família que me ensinaram a ser mulher, talvez por isso sinta a necessidade premente de escrever estas palavras como uma simples e e rústica homenagem.

A avó materna, (Serras), era do Sardoal: viu irmãos irem para a 1ª guerra Mundial e outros morrerem de pleurisia.
Proprietária, casou com um "proprietário"_ como chamavam aos donos das terras naquela zona.
Um dos desgostos que acompanhou a avó até à morte_ ela viveu os últimos anos e morreu em casa de meus pais_ , foi o não ter tido oportunidade de estudar e....o ter perdido tudo, por má admnistração dos feitores do meu avô.
Tinha uns olhos azuis lindos.

Teve três filhas, sendo a mais nova a minha querida mãe.
Viu morrer a sua filha do meio, minha madrinha de baptismo, Maria, aos 33 anos com uma insuficiencia renal causada por uma faringite... Na altura não havia transplantes de rim nem hemodiálise, acho que ainda chegou a fazê-la uma vez, num dos primeiros aparelhos que apareceu em Portugal....
Era a melhor aluna do liceu de Abrantes e terminou o antigo 7 º ano com 20 a matemática!!!
A minha madrinha morreu no hospital da CUF...A mãe conta que nas últimas visitas, ela só pedia às irmãs para rezarem com e por ela. Foi enterrada vestida de noiva.
Tinha 4 anos quando a perdi. Herdei o seu diário_ escrevia espantosamente bem.
A outra tia, a mais velha do trio, era divertidíssima e adorava viajar! Ajudou-nos a criar e casou já com 42 anos.
Desse casamento, feliz por sinal, nasceu o único primo do lado materno.
A tia morreu em 1991 com a doença do neurónio motor. Forte que nem aço, nunca lançou um lamento e sorriu até ao último minuto em que respirou._ e já respirava com muitíssima dificuldade....
Quando a perdi, foi como se tivesse perdido a minha segunda mãe.....
Foi aquilo que quis ser e para que foi educada: dona de casa e mãe dedicadíssima.

A minha mãe, mais nova e talvez a mais mimada, contava que quando em pequenina fazia disparates, a avó a fechava no palheiro!!!... Frequentavam a escola primária perto da quinta onde viviam e eram levadas e trazidas pela criada todos os dias.... A mãe conta que às vezes viam lobos no pinhal.....:)))
Detestava viajar e odiava praia: quando criança, a minha avó ia para a Nazaré e fazia termas: as meninas iam com a criada para a praia, e duas vezes por dia o banheiro levava-as ao banho: uma pela mão e as mais novas debaixo do braço. ... Deve ter sido traumatizante de facto!!! Aos fins de semana o meu avô ia lá ter com elas e saíam à noite, e a mãe conta que se lembra de pensar: "se eu morrer esta noite, amanhã já não tenho que ir ao banho"!!!:)))

Avó paterna (Quelhas), foi das primeiras mulheres a ir para a Universidade de medicina do Porto onde se formou como enfermeira parteira. Lá conheceu o meu avô que frequentava medicina, e casaram....
Era uma mulher linda, de olhos azuis, loira, de grande bondade e grande inteligência.
Teve 8 filhos e ainda hoje encontro pessoas que me dizem "a sua avó eram Uma Santa!!"... Ajudou a nascer tanta gente..e só pagava quem podia pagar..... RECUSOU sempre e terminantemente fazer abortos!!! Muito católica, como todos na família, era também monárquica_ não sei se tão ferrenha como o meu avô, mas creio que sim!:)
Sofreu bastante naqueles conturbados tempos da segunda guerra para criar os oito filhos,como é natural.
Aturou alguns "desvarios de saias" ao meu avô.... e esteve tuberculosa, hipertensa (tratava-se com o chá de folha de oliveira), sofreu um AVC do qual recuperou..... e morreu teria eu uns 5 ou 6 anos, em Lisboa, de cancro.

Desses 8 filhos: dois eram mulheres : as minhas queridas Tia Bula e Soledade.
O meu avô "enfiou-as" ,sem lhes pedir opinião, uma em medicina e outra em farmácia!!!:))
A tia Bula....Que de facto não tinha queda para medicina, lá conseguiu convencer o pai, e mudou para Histórico-filosóficas onde se licenciou com a mais elevada nota. Esteve em Paris onde foi leitora de português na Sourbonne.
Quando voltou para Portugal foi dar aulas para Lisboa e viver, até hoje, (tem talvez 88 anos), num lar de freiras.
A última vez que veio a Coruche oferecemos-lhe um ramo de rosas brancas .... Ela adorou e disse que assim que chegasse a casa as iria colocar aos pés de Nossa Senhora.....:)))
A tia Soledade.....Frequentou farmácia até conhecer o marido, médico: foi para a Índia onde o Tio Manel esteve uns anos e depois...África...Onde foi "coroada" rainha por uma tribo qualquer:)))_ Episódio que ela ainda hoje conta com imensa graça!!!!:)))
Ficou viúva cedo com três filhas para criar, tarefa que cumpriu com o máximo êxito: uma delas licenciou-se em Germânicas, foi leccionar para a Alemanha onde casou, a outra mana , Medicina (claro), _curso que acabou com média altíssima sendo-lhe oferecida uma bolsa para os States onde conheceu um belga com quem casou e tem 4 filhos, e é muito feliz)_ e a outra irmã seguiu o rumo das Artes onde revelou bastante talento!.....
Bem...já me estou a alongar na estória que não quero, de todo, maçadora!!...Se enveredo pelas primas não saio daqui: com 7 irmãos, em que só dois não casaram ou não tiveram filhos, "são mais do que as mães" como se usa dizer;).....

Ficamos assim; Mulheres do meu sangue, avós, tias e mãe.
Desta mistura explosiva, deste "caldo",saiu esta mulher que aqui escreve sem temor ou pudor.
Já me chamaram "cavalo selvagem de narinas ao vento", "cruza de "tia" com guerrilheira talibã", mas eu vejo-me mais como leoa domesticada_ até sou do sporting;)) LOOLL:))_ Os leões são uns gatinhos meigos quando lhes passam a mão ao correr do pêlo...... ;))))

Obrigada mulheres do MEU sangue!;) Esse sangue continuará a correr nas artérias e veias das leoazinhas que cá tenho em casa!
Amo-vos! <3

Isabel

( Um beijo para as tias por afinidade! Apesar de não partilharmos ADN adoro-vos!)

terça-feira, 7 de junho de 2011

The great gig in the sky/Edvard Munch



Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumiére
just a little light
...una piccola…em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a advinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de nós.
Brilha.

(in FIDELIDADE, 1958)Jorge de Sena

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cardápio de mães


Se há amor impossível de quantificar, definir, pesar ou medir..é o amor de mãe.

Nada que se compare.... Com nada.

Pelos filhos, dá-se a vida sem pensar um segundo,

mesmo quando quase nos matam para nascer,

nos desenham olheiras pelas noites roubadas,

nos põem o peito a jorrar sangue,

nos levam à exaustão com as birras,

à falência com as "actividades", psicólogos e pediatras,

ao quase enfarte do miocárdio quando adoecem e não sabemos o que têem,

às preocupações com as aprendizagens e ...

à quase loucura quando nos fazen lutar por eles em caso de divórcio.

Depois vem a adolescencia e as típicas mudanças de humor de 10 em 10 minutos,

as exigencias,

as respostas "tortas",

as incompreensões,

as saídas com amigos (com horas marcadas e nem sempre respeitadas)...

E a sensação de espanto pelo quão depressa cresceram e.....

nos deixaram sós.

_Conheço mães que têm 2 ou 3 casamentos:

os filhos do 1º matrimonio, estão com o pai,

os do 2º com os tios e ...

o mais novo em casa....da mãe de todos.

Conheço mães que abdicam.

Conheço outras que enfiam em casa namorado novo atrás de novo namorado,

"obrigando" os filhos a fazer parte da "novela",

impingindo "gabirus" como quem obriga a comer a sopa ou a tomar o xarope._



Se calhar sou antiquada e desadequada,

Se calhar estou apenas cansada e só.

Provavelmente sou só uma mãe estúpida e aparvalhada.

Não pergunto se valeu a pena:

as opções de coração aberto e escalpe à vista são inquestionáveis.

Sempre e para sempre, mãe._ pela mãe que tive e me ensinou a ser.

Isabel

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Jewel- Hands + Lyrics " VALHA-NOS AS MULHERES"



Valham-nos as mulheres!
by Isabel Quelhas Ribeiro on Monday, May 23, 2011 at 2:48am



Estou em estado de sítio, em plena guerra, e preciso mais que nunca... de Paz.


Preciso esquecer que as injustiças continuam,

que as pessoas morrem estúpida e inutilmente,

que quem nos governa comete actos de tão grande desonestidade

que nos penhora o futuro até à 3ª geração!!....


Queria esquecer isto TUDO!

Emigrar para Marrocos ou para as Seychelles, sem acesso a jornais ou tvs e....

sentar-me a ler os livros verdadeiramente importantes ouvindo as músicas essenciais.

O meu sangue,_ provavelmente descendente de alguma guerreira berbere_, não deixa,

e eu não consigo ficar impávida e serena perante a injustiça.

Desgasto-me, eu sei.

Os meus neurónios curto-circuitam.

O meu coração acelera, o sangue ferve-me.

Sinto uma necessidade incrível de fazer algo pelo meu País.

...Absurdamente, agora que tenho as filhas criadas,

sinto-me mulher para dar o peito às balas.

Infelizmente....Nem balas há que arranquem este Povo desta modorra desesperada.


Assim, vou sonhando, com o momento em que,

isolando-me de tudo, consiga sentar-me, com a mente vazia e o coração cheio,

sentindo apenas a Paz e a tranquilidade que tanto ambiciono desejo e preciso.


Isabel

(Este meu escrito foi publicado no blog de um amigo meu que lhe deu o título "Valha-nos a mulheres"_ OBRIGADA pela HONRA!)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Climbing the Mountain


They take pictures of the mountain climbers at the top of the mountain. They are smiling, ecstatic, triumphant. They don’t take pictures along the way cause who wants to remember the rest of it? We push ourselves because we have to not because we like it. The relentless climb, the pain and anguish of taking it to the next level – nobody takes pictures of that, nobody wants to remember, we just want to remember the view from the top, the breathtaking moment at the edge of the world. That’s what keeps us climbing and it’s worth the pain, that’s the crazy part. It’s worth anything. (In Anatomia de Grey)

Portugalnomics: Ep. 1

Lady GaGa - Born This Way (Tradução / Legendado em Português) [Letra Ofi...



NUNCA ME DIGAM: “ FOI OPÇÃO TUA?? Ok: então não te queixes.”
Hoje estou com o mau feitio. So what??? Não tenho razões para isso?? Se calhar não: mas isso não me tira o direito ao Estado de Espírito que me assola.
Graças a Deus tenho duas filhas saudáveis, uma casa para viver e, coisa rara nos tempos que correm, emprego/trabalho.
Acordei cansadíssima: tenho que perguntar a quem de direito porque razão quanto mais cedo me deito, mais cansada acordo. Será da fibromialgia??... Não sei, talvez. Doença de “gente fina” não interessa a ninguém.
Sei que tive uma manhã particularmente difícil a vigiar provas de aferição, sem me poder sentar como manda o manual de etiqueta: nem a “porcaria” do Brufen” tomado ao pequeno-almoço, me livrou de uma dor de coluna e cabeça, toda a manhã.
Saí da escola estoiradíssima, fui ao supermercado fazer umas compras para o fim-de semana, comi uma torrada e um chá e vim para casa.
Cheguei às 2 horas. São 17, 45 e só agora me sentei.
Porquê??..... Porque havia roupa para apanhar e dobrar_ que eu pedi às miúdas e se “esqueceram”_, máquina para pôr a lavar, casa para aspirar, reciclagem para despachar, e outras coisas para lavar, limpar, aspirar, whatever.
…..Sinto-me assim do tamanho de uma formiga que tem que carregar uma folha muuuuito grande!! Claro… claro que toda a gente diz: “ não optaste por te divorciar e ficar com as miúdas??”_ Obviamente que sim. E não estou arrependida: mantive a minha dignidade. E a dignidade tem preço!….
Os divórcios provocam para quem é “deixado”, uma diminuição da qualidade de vida_ em vez de dois ordenados passa a entrar só um_, consequentemente a mulher a dias passa a vir só uma manhã em vez de 3X /semana e…. as crianças têm sempre imensas actividades: _ “trabalhos de grupo, visitar os avós, tratar dos cães e gatos que estão em casa dos mesmos, levar a gata ao veterinário, ir à explicação, namorar…etc e blablabla.”
E a mãe… é uma chata porque tem a mania das limpezas e das “boas educações”! Obviamente que cá em casa não se põe os cotovelos na mesa nem os sapatos no sofá, e…nem a gata a “meia pensão” está autorizada a acabar com os sofás, tarefa já iniciada há vários anos.
Graças a Deus, O Senhor concedeu-me o dom do “desenrascanço” tão tipicamente portuga, que me permite ir com o carro à oficina, à inspecção, ir para o fim do mundo sozinha, à noite, com a criança doente a vomitar no banco traseiro do carro à procura da pediatra, comparecer às reuniões de escola , ou … Resolver uma inundação que me obrigou a mudar o chão de 4 divisões da casa. ( Enquanto isso, o progenitor apenas me fez o grande favor de me fornecer o nº do seguro habitação... E continuar a sua vida normal, como se nada se passasse com a descendência, que durante um mês não pôde dormir em casa devido às obras).
E as férias a 3, sozinhas??? Uau!! Graças a Deus que existem telemóveis: se saía com a mais velha, (no máximo até à meia noite), a mais nova ficava em casa de telemóvel em punho atendendo as mensagens de 10 em 10 minutos.
Festas de anos , baptizados??.... Tudo a meu cargo e da minha querida falecida mãe.
Primeira comunhão e Crisma, idem.
Claro: ao progenitor cabe a “árdua” tarefa de fazer aquilo que gosta e progredir na carreira.
Progenitor que nem ao funeral da avó das filhas compareceu_ não, (já agora), pela ex-sogra por quem sempre foi tratado com a maior das considerações_ , mas ao menos para consolar a dor das netas que perderam a figura de referência mais importante da vida delas.
Ok, ok , ok,…. Já me estou a alongar na libertação de indignações que já deixaram de ser mágoas, para serem apenas indignações.
Só vos peço uma coisa, meus caros: não me venham mais com a conversa dos pobres pais divorciados que ficam privados do convívio dos filhos pelas maléficas mães!!!
Para esse peditório não dou!!!!
Obrigada a quem me lê: como não tenho ninguém a quem maçar, maço os leitores que fazem o favor de me ler: alguns por pura amizade, outros por doentia coscuvilhice.
Cada um é responsável pelos actos que pratica e eu não me inibo de assumir os meus.
E….Pela lei natural da vida é assim com todos nós: só que alguns… ainda não repararam.

Continuação de uma boa tarde: confesso que me sinto mais leve. O veneno que não destilamos, envenena-nos a nós e deste, já me livrei!!
“Siga a marinha” que amanhã será um novo dia!
Isabel.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Breathe me - Sia



EDITH STEIN (Santa Teresa Benedita)

“Não me interessa qual é o teu modo de vida.

Quero saber o que anseias, e se ousas sonhar conhecer os desejos do teu coração.

Não me interessa que idade tens.

Quero saber se arriscas procurar que nem um louco o amor, os sonhos, a aventura de estar vivo. Não me interessa saber quais os planetas que estão em quadratura com a tua lua. Quero saber se tocaste o centro da tua própria dor, se estiveste aberto às traições da vida ou se te encolheste e te fechaste com medo de outros sofrimentos! Quero saber se consegues sentar-te com a dor, a minha ou a tua, se te mexeres para te esconder, disfarçar ou compor. Quero saber se consegues viver a alegria, a minha ou a tua; se consegues dançar com loucura e deixar que o êxtase te encha até às pontas dos pés e das mãos sem nos advertires para termos cuidado, sermos realistas, ou nos relembrares as limitações de ser humano. Não me interessa se a história que me contas é verdadeira. Quero saber se consegues desapontar o outro para seres verdadeiro contigo mesmo; se consegues suportar a acusação de traição e não atraiçoares a tua própria alma.

Quero saber se consegues ser fiel e, por isso, digno de confiança. Quero saber se consegues ver beleza mesmo num dia não muito bonito, e se consegues alimentar a tua vida da presença de Deus. Quero saber se consegues viver com o erro, teu e meu, e mesmo assim ficar de pé à beira de um lago e gritar à Lua prateada, «Sim!».

Não me interessa onde vives nem quanto dinheiro tens. Quero saber se, depois de uma noite de dor e desespero, exausto, dorido até ao tutano, consegues levantar-te e ocupares-te das necessidades das crianças.

Não me interessa quem és, como chegaste aqui.

Quero saber se permaneces no centro do fogo comigo sem te ires embora.

Não me interessa onde ou o quê ou com quem estudaste.

Quero saber o que te sustém interiormente quando tudo o mais cai à tua volta.

Quero saber se consegues estar só contigo mesmo; e se verdadeiramente gostas da companhia que tens nos momentos vazios”

Hope There's Someone



Morreste-me

Morreste-me!!!

Miguel, sabes, tu que escrevias tão bem, ajuda-me agora que eu não sei o que te dizer e tenho tanto dentro de mim a fervilhar!!….

Saudade…Não, não é saudade, saudades tuas sempre as tive pois raramente saías do teu monte alentejano e aparecias por estes lados…..

Lembras-te???

Uma vez caiu um bebé coruja de um pinheiro que lá tinhas, puseste-a numa caixa e vieste à minha casa (dos meus pais) e ofereceste-ma!!:)))) A coruja era tão gira com aqueles olhos enormíssimos, amarelos como holofotes!!!.... Criámo-la durante uns tempos e depois soltámo-la. Que será feito dela??? Foi há quanto tempo?? 32 anos???

Lembras-te Miguel, quando me ias cavalheirescamente buscar a casa para ir ao cinema e à discoteca?? E na discoteca dançavas… Ui…. Só me fazias lembrar o MIck Jagger!!!

Eras lindo, Miguel: alto, loiro, uns olhos azuis do tamanho deste mundo e do outro!!!!

Fomos colegas de liceu durante uns anos e a vida separou-nos quando eu fui para a faculdade… Mentira… A vida foi-nos separando aos poucos quando tu enveredaste por caminhos que não eram os meus…. Nunca te condenei e tu sempre me respeitaste. Quando saíamos juntos e ias fumar cigarros “diferentes”, nunca o fazias à minha frente.

Um dia foste visitar-me a Évora, fiquei tão feliz!!!.... E tão chateada quando a meio da discoteca desapareceste para ir fazer aquelas coisas que não fazias comigo ou na minha presença….

Jamais esquecerei um dia em que me convidaste para ir a tua casa e me leste as tuas poesias que me deixaram… absolutamente siderada!!! Escrevias extraordinariamente bem!! Desperdiçaste tanto talento…. Tanto talento Miguel!!!

E é tão triste saber que a culpa não foi tua!!!!!!

Como pode uma criança resistir à perda do pai na infância, e à presença de uma mãe exigente e distante???.......

Falavas imenso do teu pai e da admiração que tinhas por ele.. Confessavas muitas vezes as incompatibilidades com a tua mãe…. Já eras um solitário há 40 anos…

Depois casaste com uma miúda bem mais nova… Que eu sabia que não tinha nada a ver contigo. Tiveste um filho que adoravas…e que a vida ou a tua ex, afastou de ti… Já eu era professora e ias à escola saber do teu filho, eram os poucos momentos em que te conseguias aproximar dele.

Divorciaste-te e isolaste-te no teu sagrado Monte.

Deixei de conhecer as tuas amizades, nunca nos quiseste misturar; quando se tem muito dinheiro, tem-se muitos amigos… E tu nunca te coibiste de viver na “red line” o tempo todo.

Havia em ti, ndubitavelmente, o fascínio pelo abismo...Como quando mergulhaste de cabeça no açude e foste parar ao hospital em risco de vida ou ficar paraplégico....

Das últimas vezes que te vi, estavas lindo como sempre, mas muito magro, prematuramente envelhecido. Mesmo assim, os teus olhos enormes radiografavam-me e…eu não precisava de contar nada: tu percebias tudo!

Em 2001/2002 tivemos uma passagem de ano juntos… Dançámos… Acho até que nos beijámos!…. Mas eu sabia que o caminho da minha vida não cruzava com o teu e… delicadamente tirei-te as hipotéticas ilusões.



Hoje, a minha melhor amiga de infância telefonou à hora de almoço…Para me dizer que tu tinhas partido.

Saí da escola para ir à tua missa… As flores escolhidas pela tua única família, uma irmã que vivia longe eram malmequeres do campo.

Como disse o Padre, “somos folhas levadas pelo vento….”. E o Espírito Santo sopra por onde quer.

Alguém me disse que sofrias e sofreste muito nos últimos tempos. Mas..nunca te queixavas. Como um príncipe, nunca te permitiste uma queixa!

Penso que terás partido sozinho, provavelmente lá no Monte, no primeiro dia de Primavera… Ninguém me soube bem explicar de quê, nem tive coragem de perguntar à única pessoa da família que vi na Igreja.



Fiquei a pensar que com a quantidade de amigos que perdi nos últimos 10 anos, já dá para fazer uma turma, lá no Céu.



Obrigada Miguel pelos poemas que lemos juntos na nossa adolescência, pelos livros que comentámos, pelas músicas que ouvimos e dançámos.

Obrigada Miguel por teres passado na minha Vida como uma brisa suave e profunda, com cheiro a campo, a Primavera, a malmequeres e a giestas.



Isabel