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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Bilhete postal a Deus - Mário Cláudio


Bilhete-Postal



       Meu Pai, meu Filho, meu Espírito Santo.


Estendo as mãos à caveira da noite, e a criatura que sou consome-a a areia do vidro do tempo. Nada digo que não te pertença, nada escrevo que não corra à eternidade.
De cada vez que caio subo mais alto, e ao reencontrar-te, voo acima de mim mesmo. Aquieto-me contigo, com o pão e o vinho, e não há luz que pese como o absoluto cristal do ar.
Mas quando o teu rosto se afasta, e a treva se desdobra, o Mundo fica um caroço de mágoa que endurece no lugar do coração.
Livra-me da tua ausência. Fica comigo enquanto o dia acaba.


 Mário Cláudio
(escritor)

In Cartas a Deus, publicações Pena Perfeita.