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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

POSFACIO ao livro de António Feio, por Dr. Nuno Gil


" O António reisistiu um ano e meio à doença e eu acho que isso teve a ver com a sua atitude. Às vezes penso que os tratamentos não valem nada. (...) Há doentes que se sentem mais felizes depois de descobrirem a doença, o que parece paradoxal. No caso do António, isso foi mais do que óbvio. Ainda antes de ontem, apesar dele já não se conseguir expressar muito bem, quando percebeu que eu estava presente esboçou aquele sorriso muito bonito que ele tinha sempre, ou seja, estava com um sorriso de paz e isso é um grande paradoxo. Como é que no meio disto tudo se consegue descobrira paz e a serenidade?! (...) A primeira coisa que é preciso fazer, e foi o que o António fez, é aceitar com serenidade a realidade da morte. Aceitar que não somos imortais, pelo menos na vida terrena. Ele deu essse primeiro passo e a partir daí foi tudo ganhos e provavelmente esta ano e meio pode ter sido provavelmente , o período mais feliz da vida dele. A primeira coisa que o António fez para atingir essa serenidade foi aceitar com calma e delicadeza a realidade da morte. E isso é o que a sociedade não nos ensina, aliás, combate. (...) Ele é um enorme exemplo para todos nós. Tenho por ele uma admiração muito grande (....)

Percebi que aquilo de melhor que posso dar em Medicina não tem nada a ver com estetoscópios, com escolher químicos, nada disso, mas sim com a solidariedade humana, a amizade. Este é um processo que tenho vindo a desenvolver comigo mesmo. Por isso é que choro muito, por isso é que tenho vontade de desistir, por isso é que as dúvidas são cada vez maiores, por isso é que isto é um rebuliço interior. Esta profissão tem um lado terrivelmente emocional. Mas eu não me importo de chorar, a sociedade tirou-nos esse direito, mas eu reclamo esse direito . Os doentes fazem parte da minha vida, são a minha vida, são eles que me têm ensinado a saber como cuidade deles. A parte técnica qualquer um com o mínimo de preparação pode fazer. Como diz uma máxima dos cuidados paliativos: " Os que estão a morrer ensinam-nos a viver". Foi o que o António fez.... Hoje é um dia difícil"



In revista LUX nº 539



(Homenagem à Vida...à Ciência.... Ao António...Aos que perdemos...E....Um grito de revolta contra o último tabu do sec. XXI: a morte.)