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sábado, 27 de agosto de 2011

A última noite daquele Amor.

A última noite daquele Amor.

A cama grande, dela, só é desfeita até meio. Do outro lado, almofadas e almofadões compõem recordações que ela todos os dias afasta e todas as noites lembra ao deitar…e relembra ao levantar.
Foi um relacionamento longo que começou por ser uma grande amizade (durante mais de um ano) e que, com o tempo e os encontros esporádicos se transformou nalgo inesperado mas perfeitamente “adivinhavel”.
Jovens, cultos, católicos, com princípios e valores semelhantes , entre eles as conversas prolongavam-se tempos sem fim….. E eram sempre intermináveis….
A timidez dele e a insegurança dela fizeram com que o percurso desta relação não fosse nunca linear…Entre os zigue-zagues da vida, ambos cresceram e descobriram que se amavam mais do que aquilo que puderam imaginar.
Apenas algo os separava: e esse apenas era tudo: a distância geográfica e a dedicação familiar, comum a ambos.
Ele sabia que mais tarde ou mais cedo iria para o estrangeiro.
Ela pensou que aguentaria: os encontros mensais ou bimestrais, as sms’s, os e-mails…e os telefonemas….
Naquela noite de Inverno, ele , não aguentando as saudades, recém-chegado de um voo intercontinental e com voo marcado para o outro dia, meteu-se no carro e percorreu com olhos cansados os 100 kms que os separavam.
Ela, feliz, recebeu-o com o chá tardio, as bolachinhas, o incenso, as velas por aqui e por ali, e a música suave do costume.
Depois de muito conversarem e a escrita em dia, entregaram-se um ao outro pelo amor que os consumia.
Ele tomou o seu lugar na cama dela. Ela aconchegou-se e ele abraçou-a adormecendo tranquilo e feliz.
A noite foi de tempestade como há muito não acontecia: relâmpagos, trovões, chuva forte e intensa fazendo-a temer pelo voo que o esperava no dia seguinte.
Quando ela estremecia com os trovões mais fortes que intermitentemente a acordavam, ele nem se movia, apenas a abraçava mais, sem uma palavra.
Noite de temor, de desassossego, como que divinatória do fim daquele amor condenado.
De manhã, ainda a luz não despontava e a calma não sobrevinha, ele acordou-a suavemente, e entregaram-se novamente com terna intensidade, e um ardor inusitado.
Depois ele levantou-se e saiu.
Ela ficou um pouco mais a saborear a beleza dos momentos que entrelaçados criaram….até que se fez horas de seguir para mais um dia de trabalho normal: Como se nada tivesse acontecido.
Voltaram a telefonar-se e a falar algumas vezes…Ela começou a impancientar-se com a impossibilidade de ele voltar proximamente a Portugal….Até que um dia, ele disse lá do outro lado do telefone de outra parte do mundo_ sempre dentro da sua lógica matemática e pouco romântica, como era seu apanágio: _ “Acho que precisas de alguém que te possa dedicar mais tempo e a atenção que mereces!”.
Ela concordou e desligou o telefone lavada em lágrimas silenciosas.
Foi a última vez que falaram.
A partir desse momento, nunca mais ninguém visitou aquela cama, aquele espaço, preenchido de almofadas e almofadinhas: o lugar dele.
Passaram 8 meses. O lugar continua à espera de alguém que lhe dê_ a ela_ mais tempo e atenção.
Todas as noites ela se deita naquela cama com um lugar guardado, preenchido de almofadas e almofadinhas e mais que tudo, cheia de recordações que ela faz por ignorar , da noite mais bela da sua vida.

The end.

Isabel