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domingo, 12 de abril de 2009

Os divorciados e a Igreja Católica

OS DIVORCIADOS E A IGREJA CATÓLICA

Confesso, eu pecadora me confesso, que estas alturas do ano são sempre problemáticas para mim.
Não me parece que tenha uma propensão natural para ver problemas onde eles não existem mas o facto é que se algo me atormenta o Espírito, não descanso enquanto não o “deito fora”, não o esclareço, não o compreendo…porque como dizia um Teólogo conhecido, só podemos Perdoar depois de compreender…E neste momento talvez eu precise apenas de ser compreendida para alcançar o perdão.
Sou Católica como já afirmei diversas vezes, e creio que mesmo sob tortura o continuaria a jurar. A Fé é estruturante da minha personalidade: permite-me entender o que me rodeia, permite-me aceitar o que não posso mudar, permite-me levantar da cama todos os dias quando me apetece deitar a toalha ao chão e arrumar as luvas de vez e acima de tudo, a Fé, permitiu-me aceitar a partida/morte de pessoas que muito amei.
Ao fim de muitos anos compreendi que a maior vingança é o perdão…O que não significa necessariamente esquecimento.
Há pouco tempo uma grande amiga minha chamou-me a atenção para o facto de ao fim de quase 11 anos, eu ainda não ter conseguido ultrapassar a mágoa das infidelidades e traições do meu ex-marido.
_ Continuo a sentir o chão a fugir-me debaixo dos pés como quando me vi sozinha com 2 crianças nos braços, assistindo à fuga daquele que jurei amar e respeitar “até que a morte nos separasse”- a acrescentar todas as consequências materiais que se seguiram.
_ Continuo a sentir a pergunta “ e agora o que é que eu faço? Que vai acontecer às minhas filhas??”, quando me disseram que tinha um tumor cerebral… Sobrou-me o sentido de humor para ir lavar a campa de família para…just in case…
_ Continuo a sentir o desgosto da perda do maior amigo que tive na vida levado por uma leucemia; continuo a questionar-me porque ditadores como Pinochet ou Stalin duraram até aos “500”anos e o meu amigo teve de partir aos 46.
_ Continuo a rezar e a temer pelas minhas amigas doentes revoltando-me porque a investigação para combater esta doença não avança ao ritmo necessário, quando se mandam homens à lua e sondas a Marte e os HIVs estão todos controladíssimos….
_ Já não pergunto porque a doença da Mãe apareceu, se desenvolveu e a levou em apenas 11 meses, quando nas pessoas mais velhas, o normal é os tumores serem menos agressivos…. Creio que Deus a chamou e que ela foi; penso que estava a ficar cansada de tantos tratamentos, chatisses, consultas…e lhe faltou o Amor e a Força que também eu lhe deveria ter dado.
Não estou zangada com Deus: estou preplexa.
Uma das características do meu signo – dizem- é não suportar as injustiças.
E eu queria perguntar à Igreja Católica: porque não devem os divorciados com vida sexual normal, comungar??
Que culpa tiveram??
Que pecado cometeram se não foram eles que rejeitaram o casamento e abjuraram os seus votos??
Que condenação teremos que suportar além das que já sofremos: escolher entre DEUS /comunhão e namorado???
_Dizia-me uma amiga minha católica e casada:” mas porque razão isso é tão importante para ti? Também não vais a todas as missas!!”_
A Missa existe para a Comunhão: é o ponto fulcral da cerimónia, a partilha do Corpo de de Deus.
_Que interesse tem ir a um banquete para ver os outros comer?? _ exemplo estúpido? Pode ser!_
… Na última semana de vida, a Mãe já mal falava e não comia absolutamente nada mas todos os dias, por volta das 6 horas, quando chegavam as “senhoras da Comunhão”, ela ACORDAVA, rezava todas as orações e comungava. Eram os únicos momentos do dia em que a Mãe era igual a ela mesma….
“Pescadinha de rabo na boca”: não se vai à Missa porque não se pode comungar…E vice–versa.
Exijo, ou melhor, peço que expliquem. Merecemos ainda o castigo do afastamento da Comunhão?? O sofrimento que tivemos não foi já redentor??
O nosso Papa tem que repensar. _ que atrevimento dizê-lo, mas digo!
Ontem vi um filme sobre a vida de Cristo: quando ele ressuscitou, todos os apóstolos estavam assustados e descrentes da Ressurreição; já só queriam salvar a pele dos romanos. No entanto, Jesus sentou-se entre eles e dividiu o pão o vinho dizendo as palavras consoladoras de todas as dores: “Este é o meu Corpo…..” Nem sequer os ouviu em confissão porque os conhecia por dentro e por fora, com as suas fragilidades e falhas humanas.
Não criticou, não peniticenciou: apenas SE DEU!!!
Sinto em mim, sinto, para além da depressão que me derruba e me corrói por dentro _ porque por fora nada se nota_ a falta do consolo da Comunhão. Do partilhar da refeição instituída por Cristo.
Perdi o interesse pela Missa: leio, vejo na TV e rezo como sei e posso.
Uma neurologista mandou-me fazer psicoterapia para “arrumar os caixotes espalhados na minha cabeça”.
Eu sei que preciso. Sei que terei que passar por essa fase antes que em mim o Demónio me faça desistir da vida…às vezes oiço a sua voz melodiosa: _ “desiste, não te aborreças..entrega-te…é tão fácil…descansa”_ Uma caixa de comprimidos talvez solucione tudo rapidamente.
(E POR FAVOR, não me venham dizer que há piores do que eu: não é consolo para mim e cada ser Humano tem a sua capacidade de resiliência _ qualquer engenheiro de materiais sabe do que estou a falar, até uma eng.ª zootécnica._)
Estou aqui porque Deus é grande e a Cruz que ele tem para mim não desistirei de a carregar.
Mas sei que pelo menos, tenho direito a questionar!

Beijos a quem me lê.
Isabel

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