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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Faz-me chorar!


Faz-me chorar

Há bebés que não choram, logo, não respiram, no momento do nascimento.
As parteiras experientes dão-lhe uma palmada que lhes desencadeia o mecanismo do choro e consequente respiração.
1,2,3 Vou nascer outra vez….. Lembram-se dessa música??


A letargia atingiu-me de tal modo que a dor surda que trago no peito se assemelha a um nenúfar monstruoso que desabrocha do meu coração, sugando tudo à sua volta…
Não consigo libertar-me e gritar, dizer uns palavrões, dar uns pontapés por aí…
Hoje lembrei-me que ….fiz tantas coisas mal..que errei tanto…que chateei….que não compreendi,…que,…..fiz tanta coisa imperdoável…
Mãe….Estavas com a vida por um fio, mas como te descobriram diabetes, eu chateei-te para controlar os doces….
A Helena,a minha melhor amiga, tinha o marido a morrer e negou-lhe uma laranja! Uma porra de uma simples laranja que ele tanto lhe suplicou dizendo que estava farto da fruta cozida “recomendada” pelos médicos!!!......
Mãe, pensei que estavas a ter um AVC quando perguntei onde guardavas as camisas de dormir e tu espantada não conseguiste explicar….Mãe, percebeste a minha aflição? _ Não, não era AVC nenhum…Eram as toxinas que o teu fígado metastizado em segredo, já não conseguia metabolizar….
E não choro. Mantenho-me impassível.
Pediste-me para morrer em casa e eu não cumpri o teu desejo.
Merda, como me posso perdoar?????????????
Mas o que é isto??
Que fazemos nós???
Em que criaturas nos tornámos.????
Mãe…rebobina a cassete: faz o filme voltar ao princípio…Por favor,…..
Chama-me nomes e diz que eu sou uma merda de filha que ainda por cima te chateei com os meus problemas….
Se a morte é um momento mágico, a vida também o é. E cada momento é único e irrepetível….Quando aprenderemos tal lição??
Mãe, porque não nasci cigana para fazer um berreiro danado no tua missa, no teu enterro???....
O que me fez ser assim??
Talvez a certeza absoluta de que estás muito melhor do que eu e a certeza do reencontro me façam sentir que já nada tem importância e que não há volta a dar ao passado……
Talvez a noção fria e real de que este filme não pode ser rebobinado me façam permanecer num mar da tranquilidade lunar, sem ventos nem tempestades, à espera daquilo que a Vida me trará, quer eu queira, quer não.
“Pai, afasta de mim este cálice!”
E o cálice foi bebido até ao fim….
É esse amor transcendente, ilógico e poderoso pelo Crucificado que me dá paz….
Graças a Deus.

Isabel ( Novembro de 2008)

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