Hoje, depois
da consulta com o dermatologista no hospital da misericórdia de Évora (que tem
acordo com adse, aproveitem enquanto houver), fui com a Filipa estacionar o
carro junto à Igreja de São Francisco no intuito de lhe satisfazer o pedido de
ir à Capela dos ossos.
Entretanto, tinha
combinado com a minha amiga São (e com as suas filhas), encontrarmo-nos por ali pelas esplanadas…. e
o dia estava tão lindo que por ali ficámos, tomámos chá e acabámos por almoçar.
Assim, as conversas, que são como as cerejas, foram
surgindo naturalmente. Como no Alentejo: com calma e como dizia um amigo meu,
deixando o Tempo passar por nós_ algo que só os alentejanos sabem.
Falámos do
amor na juventude, dos estudos, dos colegas, dos amigos, dos “rapazes giros”
etc, etc…
Às tantas, diz a Filipa: “ sabem na minha escola, as
pessoas juntam-se em grupos e para elas o que é importante é terem uns ténis da
“merrell”, umas camisolas de não sei quê e mochilas de não sei que mais!... Os
miúdos que não têm essas coisas são postos de lado!! São gozados! E o que mais
impressão me faz, é que são os RAPAZES que mais ligam a essas coisas! Há 2 ou
ou 3 anos todos tinham que ter ténis all
stars…. Agora são estas marcas XYZ”!!” (!!!!)
Diz a nossa
amiga São, que é de sociologia: “ Pois,
isso tem a ver com a história da
pirâmide social e os grupos definem-se assim pelo que têem, pelo que aparentam,
pelas lojas onde compram as coisas… Quem não tem nada dentro, quem não se sabe
evidenciar pelo que é, evidencia-se pelo que tem ou aparenta!”
Eu fiquei
boquiaberta.
Acreditam
que esta questão nunca me tinha ocorrrido???
Simplesmente,
no meu tempo não havia “marcas”!
Eu disse: “…
faz-me impressão! Então as pessoas deviam identificar-se pelo que lêem, pela
música que ouvem, pela cultura que têem, pela educação….” _ às tantas olho para
os pés dela, e lá estavam os tènis Merrel, presente do pai!..... ( eu nem sabia
que esta marca existia).
E
perguntei-lhe depois: “ Oh filha, tu e a mana sentem-se discriminadas por esses
miúdos???”
Responde-me
ela, peremptória. “ oh mãe, tu achas que esse tipo de pessoas interessa a
alguém??? Não sabem falar de nada!!! Nem os quero como amigos!!!”
Fiquei a
pensar.
Fiquei mesmo
a pensar nesta conversa corrida numa esplanada calma debaixo de um Céu azul
lindo e solarengo.
Fiquei a
pensar: para onde vais Portugal quando as pessoas tão jovens, numa idade da
“construção” da personalidade, pensam e vivem desta maneira??
Onde está a
generosidade, a compaixão, a cultura, os livros em casa, a educação, a
preocupação com “o próximo”???....
No caminho
para Coruche, toquei-lhe e disse-lhe: _“ sabes, a tua marca, está aqui, dentro
de ti!!! Aquilo que és, o que sabes, o que amas, o sangue que te corre nas
veias e a educação que te demos: essa é a TUA Marca!”_
Ela sorriu.
E eu percebi que ela sabia.
1º PS_ como
monárquica, apraz-me verificar que nunca vi a família real ostentar marcas e
pelo que conheço do senhor Don Duarte a única marca que ostenta é “ I AM MADE
IN PORTUGAL!”
2º PS_
durante a doença dos meus pais, as minhas filhas foram incansáveis e
admiráveis.. Basta dizer que durante o último ano de vida do avô se revezavam
para dormir em casa dele para que nunca estivesse sózinho, lhe faziam os
recados e o amaram e respeitaram, até ao último suspiro.
Espero ser
merecedora das filhas que tenho.
Isabel.