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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

POLITIZAR A CARIDADE


“POLITIZAR A CARIDADE

Jonet, em vez de ter percebido o mal que está a fazer à sua própria obra - e que, como é óbvio não, pode ser medido pela contribuição generosa dos portugueses, que também sabem fazer distinções -,  resolveu insistir e teorizar. Está com isso a politizar no pior sentido a actividade do Banco Alimentar  e a prejudicar o esforço da única instituição que ao nível nacional actua com genuíno sentido de caridade, a Igreja. Quem escreve estas linhas propôs, em tempos ainda socráticos, que os fundos que o Estado disponibiliza para a assistência fossem atribuídos a instituições da Igreja que sabem muito melhor a quem eles devem chegar e com maior eficiência. E não mudar de opinião.
Tenho, porém, poucas dúvidas que algumas das pessoas mais preocupadas com a crescente politização do discurso de Jonet são os bispos, que conhecem a realidade portuguesa muito melhor (no aspecto assistencial, social e político) e sabem o papel que teve a doutrina social da Igreja na transição da caridade para a solidariedade, da evolução da assistência paternalista para os direitos sociais.
Para não ir mais longe, Sá Carneiro, não só perceberia de imediato o que Jonet está a dizer, como o recusaria sem dúvidas em nome da sua formação humanista e religiosa – as duas. Sá Carneiro, e isso ficou inscrito no programa original do PSD, valorizava o papel que a dignidade humana tinha e, se não reduzia o homem, na sua dimensão transpolítica, ao conceito de cidadão, também não substituía os direitos pelas benesses da caridade, por muito dedicadas e esforçadas que sejam. A caridade é para quem precisa e muito, mas a solidariedade social é um fundamento do Estado moderno, pensado por democratas-cristãos e social-democratas. E os direitos adquiridos são uma identidade da melhoria colectiva das sociedades, fruto da justiça social e dadores de dignidade e liberdade.  “

José pacheco Pereira In Revista Sábado de 13/12/12.