“POLITIZAR A CARIDADE
Jonet, em
vez de ter percebido o mal que está a fazer à sua própria obra - e que, como é
óbvio não, pode ser medido pela contribuição generosa dos portugueses, que
também sabem fazer distinções -,
resolveu insistir e teorizar. Está com isso a politizar no pior sentido
a actividade do Banco Alimentar e a
prejudicar o esforço da única instituição que ao nível nacional actua com
genuíno sentido de caridade, a Igreja. Quem escreve estas linhas propôs, em
tempos ainda socráticos, que os fundos que o Estado disponibiliza para a
assistência fossem atribuídos a instituições da Igreja que sabem muito melhor a
quem eles devem chegar e com maior eficiência. E não mudar de opinião.
Tenho, porém,
poucas dúvidas que algumas das pessoas mais preocupadas com a crescente
politização do discurso de Jonet são os bispos, que conhecem a realidade
portuguesa muito melhor (no aspecto assistencial, social e político) e sabem o
papel que teve a doutrina social da Igreja na transição da caridade para a
solidariedade, da evolução da assistência paternalista para os direitos
sociais.
Para não ir
mais longe, Sá Carneiro, não só perceberia de imediato o que Jonet está a
dizer, como o recusaria sem dúvidas em nome da sua formação humanista e
religiosa – as duas. Sá Carneiro, e isso ficou inscrito no programa original do
PSD, valorizava o papel que a dignidade humana tinha e, se não reduzia o homem,
na sua dimensão transpolítica, ao conceito de cidadão, também não substituía os
direitos pelas benesses da caridade, por muito dedicadas e esforçadas que
sejam. A caridade é para quem precisa e muito, mas a solidariedade social é um
fundamento do Estado moderno, pensado por democratas-cristãos e
social-democratas. E os direitos adquiridos são uma identidade da melhoria
colectiva das sociedades, fruto da justiça social e dadores de dignidade e
liberdade. “
José pacheco Pereira In Revista Sábado de 13/12/12.